Seu Carlos(*) \u00e9 dono de uma mercearia e toda semana recebe muitas visitas de representantes comerciais, promotores etc. Todos tentando lhe vender alguma coisa a mais. Acontece que seu Carlos descobriu que estava com espa\u00e7o sobrando na loja e reformou um puxadinho para poder instalar uma lan house. O objetivo era aumentar o faturamento e melhorar o tr\u00e1fego da mercearia, pois lan house \u0091estava na moda\u0092, diz ele.<\/p>\n
E deu certo. O fluxo aumentou e as vendas tamb\u00e9m a ponto do seu Carlos resolver anunciar na r\u00e1dio local os novos servi\u00e7os de entrega em domic\u00edlio e as promo\u00e7\u00f5es da lan house para hor\u00e1rios de pouco movimento. Uma coisa que seu Carlos faz \u00e9 n\u00e3o permitir que as crian\u00e7as \u0091matem aula\u0092 para ficar na lan house. Ele \u00e0s vezes chega a ligar para as m\u00e3es avisando que os meninos est\u00e3o \u0091matando aula\u0092.<\/p>\n
Muito \u0091antenado\u0092 com o que estava acontecendo no mundo seu Carlos, vez ou outra passeia por aqui e l\u00ea artigos e textos. Vez ou outra trocamos id\u00e9ias, s\u00f3 que desta vez foi uma atitude do seu Carlos que me motivou a escrever esta coluna.<\/p>\n
Certa vez seu ele me ligou perguntando o que estava acontecendo com a economia. Expliquei a ele. Na realidade ele \u0091engoliu\u0092 a explica\u00e7\u00e3o, mas continuou sem entender e me disse que ia tomar uma atitude. Reclamava ele que \u00e9 “imposs\u00edvel vender e fazer as pessoas comprarem criando clima de terror. Se ningu\u00e9m compra a mercadoria n\u00e3o gira e o preju\u00edzo aumenta e ai se ficar \u0091podre\u0092 quebra!” Desabafou seu Carlos. Acontece que de tanto \u0091encher o saco\u0092 com as not\u00edcias ruins e com os aumentos de pre\u00e7os sem explica\u00e7\u00e3o, seu Carlos adotou uma postura radical. Primeiro mandou chamar o pessoal da r\u00e1dio e desceu uma \u0091malha\u00e7\u00e3o\u0092 neles e mandou retirar toda a divulga\u00e7\u00e3o da r\u00e1dio, pois dizia ele que “de nada adiantava anunciar para que a popula\u00e7\u00e3o compre se o notici\u00e1rio dizia o contr\u00e1rio e pior ainda: queriam me entrevistar para saber se a tal crise tinha chegado aqui. T\u00e3o doidos?” A atitude do seu Carlos foi copiada por outros comerciantes que igualmente insatisfeitos partiram para outra forma de anunciar. Assim a crise chegou \u00e0 r\u00e1dio da cidade.<\/p>\n
Para n\u00e3o deixar de anunciar, seu Carlos contratou uns carros de som e uns moleques para distribuir os panfletos promocionais. Num trecho do panfleto comunicava que se dependesse dele os pre\u00e7os n\u00e3o iriam subir e se subissem explicaria aos clientes a raz\u00e3o e se estivessem caros demais n\u00e3o compraria aquele produto e tentaria substituir por outras marca. A a\u00e7\u00e3o deu certo, as vendas de seu Carlos n\u00e3o ca\u00edram e as pessoas vinham conversar com ele para ouvir sobre como seu Carlos estava vencendo a \u0091tal crise\u0092 que muitos falavam na TV e pouca gente sabia de onde e como teria vindo.<\/p>\n
Na mercearia seu Carlos tem uma TV permanentemente ligada para distrair o pessoal que fica na fila da lan house esperando vaga ou para as pessoas que est\u00e3o fazendo um lanche. Para n\u00e3o prejudicar as vendas trocou os notici\u00e1rios da manh\u00e3 pela reprise da novela \u0091A Favorita\u0092 e pela exibi\u00e7\u00e3o de videoclips. Dessa forma nenhuma not\u00edcia ruim era dada na hora destinada ao consumo.<\/p>\n
Confesso que quem \u0091babou\u0092 com esta atitude do seu Carlos fui eu. Fiquei impressionado com a coragem dele, mas havia raz\u00e3o para isso. Ele tamb\u00e9m pensava que a crise que a imprensa estava tentando importar na \u0091marra\u0092 chegaria aqui apenas “se o cliente e os revendedores a aceitassem com passividade e poder\u00e1 at\u00e9 n\u00e3o se instalar se a gente adotar uma postura de preven\u00e7\u00e3o e rea\u00e7\u00e3o ao mesmo tempo.” Destaca seu Carlos.<\/p>\n
Foi o que ele fez. Os aumentos exagerados das \u00faltimas semanas e o alarde desenfreado de alguns setores da imprensa, tanto daqui quanto de l\u00e1, criaram problemas e os problemas chegaram tamb\u00e9m \u00e0 m\u00eddia. Nestes \u00faltimos dias tom das mat\u00e9rias mudou e o clima de p\u00e2nico tamb\u00e9m. Parece que outros empres\u00e1rios, em outros pontos do Brasil, tiveram a mesma id\u00e9ia do seu Carlos.<\/p>\n
E o que eu esperava aconteceu-a defla\u00e7\u00e3o. Nos Estados Unidos agora \u00e9 hora de comprar mesmo, pois os pre\u00e7os est\u00e3o caindo e logo chegam a aliviar um pouco por aqui tamb\u00e9m e se isso acontecer todos aqueles que aumentaram o pre\u00e7o e esperaram fazer lucro por decreto ter\u00e3o que baix\u00e1-los e, meio sem gra\u00e7a, ter\u00e3o de admitir que exageraram na dose.<\/p>\n
O consumidor e alguns empres\u00e1rios brasileiros perceberam que tinham que mudar de postura e apesar de ainda n\u00e3o conseguirem separar totalmente o joio do trigo sabem que est\u00e3o no caminho certo.<\/p>\n
A Intel alerta que a dificuldade de negocia\u00e7\u00e3o entre varejistas e fabricantes, diante das oscila\u00e7\u00f5es do d\u00f3lar, poder\u00e1 afetar o abastecimento de microcomputadores no pa\u00eds neste final de ano e fazer com que falte PCs nas prateleiras. Quem pensa assim \u00e9 Oscar Clarke, presidente da opera\u00e7\u00e3o brasileira da Intel, maior fabricante mundial de chips de computador, segundo ele “as negocia\u00e7\u00f5es est\u00e3o complicadas”. Traduzindo: os varejistas n\u00e3o est\u00e3o engolindo os aumentos exagerados e come\u00e7am a reagir e isso \u00e9 muito bom. <\/strong><\/p>\n Segundo ele, o desabastecimento ainda n\u00e3o acontece porque o varejo tem estoques e ele percebe uma certa retra\u00e7\u00e3o de consumo entre os eletr\u00f4nicos, “mas a demanda por PCs continua muito forte” <\/strong> , ressaltou.”Tudo o que a gente torce na vida \u00e9 para que o d\u00f3lar se estabilize em 2009 entre R$ 2 e R$ 2,10.”<\/p>\n Apesar de tudo isso a Intel decidiu tamb\u00e9m que \u00e9 hora de comprar e aproveita o pre\u00e7o baixo dos ativos para “ir \u00e0s compras” em todo o mundo.<\/p>\n Pensamento semelhante tem a consultoria IDC <\/strong> . Segundo eles uma desacelera\u00e7\u00e3o foi percebida no m\u00eas de novembro junto ao varejo. Isso fez com que a consultoria reduzisse todas as suas estimativas de vendas de PCs no Brasil e na Am\u00e9rica Latina para 2009. Enquanto em agosto deste ano a IDC projetava um aumento de 14,4% na receita com os produtos de inform\u00e1tica no pa\u00eds, agora j\u00e1 espera que o salto seja de 9%. Em rela\u00e7\u00e3o \u00e0s vendas especificamente de PCs, a IDC reduziu a estimativa de crescimento de 18% para 10%. As vendas de impressoras passaram pelo mesmo processo e agora a consultoria espera que cres\u00e7am 6,6%, ante a estimativa anterior de 14%.<\/p>\n A consultoria ouviu ainda 200 consumidores brasileiros, dos quais 45% manifestaram a inten\u00e7\u00e3o de adiar seus planos de comprar computadores em pelo menos tr\u00eas meses. Um ter\u00e7o dos pesquisados tamb\u00e9m informou que pretende adquirir um modelo mais simples e barato do que o que tencionava fazer antes.<\/p>\n A consultoria IDC tamb\u00e9m revisou a expectativa de crescimento para a Am\u00e9rica Latina. Na receita do setor de inform\u00e1tica como um todo, o \u00edndice esperado, que era de 13,7% de crescimento em agosto, caiu para 7,8%. Ainda assim, o Brasil \u00e9 o que tem mais chance de sofrer menos <\/strong> . Apesar da queda nas previs\u00f5es, a Am\u00e9rica Latina e o Brasil dever\u00e3o apresentar crescimentos bem maiores que a m\u00e9dia global ou que os mercados maduros.<\/p>\n A previs\u00e3o da IDC \u00e9 que as vendas de itens de inform\u00e1tica cres\u00e7am 2,6% em receita mundialmente <\/strong> . Nos Estados Unidos j\u00e1 acontece a defla\u00e7\u00e3o, enquanto na Europa o crescimento esperado \u00e9 de 1,2%.<\/p>\n Para o IBGE as vendas no com\u00e9rcio varejista brasileiro cresceram <\/strong> 1,2% em volume em setembro na compara\u00e7\u00e3o com agosto, revelou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estat\u00edstica ter\u00e7a-feira (18\/11). De acordo com a Pesquisa Mensal de Com\u00e9rcio, a receita nominal de vendas cresceu 1,3% no mesmo per\u00edodo. Na rela\u00e7\u00e3o com o m\u00eas anterior, foi o s\u00e9timo crescimento seguido, informou o IBGE.<\/p>\n O desempenho \u00e9 mais forte em rela\u00e7\u00e3o ao mesmo m\u00eas de 2007 onde registra-se uma alta de 9,4% no volume de vendas <\/strong> . No ano, a alta acumulada do volume de vendas \u00e9 de 10,4% sobre o per\u00edodo de janeiro a setembro de 2007 e de 10,3% no acumulado dos \u00faltimos 12 meses. Todas as dez atividades pesquisadas pelo Instituto apresentaram expans\u00e3o no volume de vendas em rela\u00e7\u00e3o a agosto. As maiores acelera\u00e7\u00f5es foram observadas em equipamentos e material para escrit\u00f3rio, inform\u00e1tica e comunica\u00e7\u00e3o (6,9%); ve\u00edculos e motos, partes e pe\u00e7as (5,5%) e m\u00f3veis e eletrodom\u00e9sticos (3,1%).<\/p>\n Para a Federa\u00e7\u00e3o do Com\u00e9rcio do Estado de S\u00e3o Paulo as vendas registraram crescimento de 10,5% em agosto frente ao mesmo per\u00edodo de 2007, divulgado ter\u00e7a-feira (14\/11). No acumulado do ano de 2008, a alta fica na casa de 9,3%. At\u00e9 agora as vendas do segmento n\u00e3o refletem a crise internacional. O segmento que mais cresceu em agosto foi o de Lojas de Material de Constru\u00e7\u00e3o, com alta de 37,8% em rela\u00e7\u00e3o ao mesmo per\u00edodo de 2007, com alta acumulada em 2008 de 32,8%.<\/p>\n O segundo melhor resultado da pesquisa ficou com as Lojas de Eletroeletr\u00f4nicos, com alta de 12,4% em agosto. <\/strong> Apesar de alguns apostarem que as vendas do setor desacelerem devido a alta do d\u00f3lar, outros acreditam que com a defla\u00e7\u00e3o nos Estados Unidos e a queda de pre\u00e7os este cen\u00e1rio possa se reverter ou amenizar.<\/p>\n O pior desempenho da pesquisa foi o de Lojas de Autope\u00e7as e Acess\u00f3rios, que apresentaram baixas de 12,2% em rela\u00e7\u00e3o ao ano passado. Em 2008, o setor acumula queda de 17,8% e nada tem a ver com o d\u00f3lar, pois as empresas do setor enfrentam problemas com a concorr\u00eancia com grandes redes, a venda de autos novos e a entrada de pe\u00e7as chinesas.<\/p>\n A maior cidade do Brasil tamb\u00e9m gerou boas not\u00edcias <\/strong> . O faturamento do com\u00e9rcio varejista da regi\u00e3o metropolitana de S\u00e3o Paulo voltou a registrar crescimento em setembro. Segundo a Fecomercio, a alta foi de 9,5% em setembro na compara\u00e7\u00e3o com o mesmo per\u00edodo de 2007. No ano, o \u00edndice acumula varia\u00e7\u00e3o positiva de 5,4%. At\u00e9 setembro o com\u00e9rcio varejista continua apresentando o ritmo verificado ao longo do ano: vendas aquecidas e impulsionadas pela combina\u00e7\u00e3o positiva das expans\u00f5es do cr\u00e9dito e da renda. Mesmo com a altera\u00e7\u00e3o das percep\u00e7\u00f5es relativas ao cen\u00e1rio internacional, a tend\u00eancia de curto prazo pouco deve se alterar acredita a entidade <\/strong> .<\/p>\n O setor de lojas de material de constru\u00e7\u00e3o apresentou eleva\u00e7\u00e3o de 30,5% no faturamento real de setembro, e acumula no ano alta de 16%. Vestu\u00e1rios, tecidos e cal\u00e7ados registrou eleva\u00e7\u00e3o de 29,9% ante mesmo per\u00edodo de 2007. No acumulado de 2008, a alta \u00e9 de 24,2%.<\/p>\n No segmento de farm\u00e1cias e perfumarias, a oferta de cr\u00e9dito, ajudou a impulsionar as vendas, que em setembro contabilizaram alta de 15,3% em rela\u00e7\u00e3o ao mesmo per\u00edodo do ano passado. J\u00e1 o faturamento de lojas de eletrodom\u00e9sticos e eletroeletr\u00f4nicos <\/strong> cresceu 11,7% frente ao mesmo m\u00eas do ano passado e acumula alta de 12,5% em 2008. As vendas das lojas de m\u00f3veis e decora\u00e7\u00f5es em setembro cresceram 8,1% em rela\u00e7\u00e3o ao mesmo per\u00edodo de 2007 e acumulam no ano, alta de 10,8%. O segmento de supermercados, por sua vez, apresentou em setembro, queda de 12,5% no faturamento real frente ao mesmo m\u00eas do ano anterior <\/strong> e acumula no ano, retra\u00e7\u00e3o de 2,6%. Esse recuo era de se esperar haja vista inexplic\u00e1veis aumentos em produtos que nada t\u00eam a ver com alta do d\u00f3lar. O povo percebeu a manobra e cortou o consumo de alguns itens.<\/p>\n Enquanto isso nos Estados Unidos centenas de pessoas formaram filas em algumas lojas da Verizon Wireless na madrugada de sexta-feira (21) para adquirir o BlackBerry Storm <\/strong> , o primeiro celular de tela sens\u00edvel ao toque da Research In Motion (RIM), que foi criado para concorrer com o Apple iPhone. Diversos consumidores tiveram de ir embora sem seu aparelho, porque o estoque se esgotou menos de uma hora depois da abertura da loja. A pol\u00edcia teve de ser chamada para controlar os \u00e2nimos.<\/p>\n De volta ao Cear\u00e1, s\u00e1bado passado seu Carlos informou que a r\u00e1dio suavizou as not\u00edcias e reduziu o \u0091terror\u0092 e passou a adotar uma postura mais “realista e menos pessimista e terrorista”, enfatiza ele. Os clientes estavam mais aliviados e seu Carlos dever\u00e1 voltar a anunciar na r\u00e1dio que, para voltar a ter receita teve que elaborar uma promo\u00e7\u00e3o para recuperar os clientes que deixaram de anunciar. Mas uma coisa ele ainda n\u00e3o mudou <\/strong> : “enquanto aquela mo\u00e7a(Miriam Leit\u00e3o) do Bom Dia entrar sorrindo para dar not\u00edcia ruim, aqui na minha mercearia, na hora do \u0091Bom Dia, Brasil!\u0092 s\u00f3 roda a reprise da novela. Prefiro rever a Flora.” Diz seu Carlos, franzindo a testa. O filho do seu Carlos alertou: _”Pai, estamos em crise!” Com excelente humor, bem natural do povo do Cear\u00e1 seu Carlos respondeu -“Quem, cara-p\u00e1lida? A mercearia est\u00e1 vendendo bem, minhas contas em dia e a lan-house, que eu abri h\u00e1 pouco mais de um m\u00eas, tem fila de espera… Quem est\u00e1 em crise c\u00e1ra-p\u00e1lida?”<\/p>\n (*)O nome foi trocado.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Seu Carlos(*) \u00e9 dono de uma mercearia e toda semana recebe muitas visitas de representantes comerciais, promotores etc. Todos tentando lhe vender alguma coisa a mais. Acontece que seu Carlos descobriu que estava com espa\u00e7o sobrando na loja e reformou um puxadinho para poder instalar uma lan house. O objetivo era aumentar o faturamento e …<\/p>\n