Dezessete, do Sete, de Dois Mil e Sete, Sete da Noite. <\/strong><\/p>\n “A diferen\u00e7a entre uma com\u00e9dia e uma trag\u00e9dia \u00e9 que, na com\u00e9dia, aparentemente, voc\u00ea n\u00e3o tem sa\u00edda.” <\/strong><\/p>\n Um acidente ou trag\u00e9dia \u00e9 provocado por um conjunto de fatores. V\u00e1rias coisas contribuem e n\u00e3o apenas uma. Que me perdoem meus amigos jornalistas, mas \u00e9 necess\u00e1rio juntar v\u00e1rios peda\u00e7os, pois n\u00e3o apenas um foi o causador.<\/p>\n Uma opera\u00e7\u00e3o quando come\u00e7a a fazer \u00e1gua d\u00e1 v\u00e1rios tipos de sinais, mas parece que ningu\u00e9m v\u00ea e nem ouve nada at\u00e9 que o pior acontece. Uma diferen\u00e7a em particular precisa ser destacada aqui-na avia\u00e7\u00e3o militar voc\u00ea n\u00e3o tem escolha-tem que voar em qualquer condi\u00e7\u00e3o e de qualquer jeito, pois \u00e9 uma guerra. Na avia\u00e7\u00e3o civil o piloto s\u00f3 decola se quiser e pousa onde achar mais seguro. Deveria ser assim, mas esse \u00e9 o primeiro problema: os pilotos sofrem muitas press\u00f5es.<\/p>\n Conversei com alguns pilotos, mec\u00e2nicos de v\u00e1rias companhias a\u00e9reas. Em segredo e sem serem identificados eles falam, mas t\u00eam medo de repres\u00e1lias. Por tr\u00e1s do anonimato muitas coisas puderam ser colhidas e, somadas, costuradas formam um tecido de informa\u00e7\u00f5es e fatos que fazem um grande sentido. Nessa an\u00e1lise gostaria de me deter apenas aos fatos. A conclus\u00e3o fica por conta de voc\u00eas e do relat\u00f3rio final.<\/p>\n Fato 1-O ponto de toque <\/strong><\/p>\n O avi\u00e3o pousou no ponto certo, mas n\u00e3o conseguiu parar a aeronave.<\/p>\n Fato 2-A pista <\/strong><\/p>\n A pista ficou perigosa. Escorregadia, mas com um m\u00ednimo de capacidade de opera\u00e7\u00e3o.<\/p>\n Estava lisa, molhada e sem um dreno, pois faltava o grooving <\/em> (ranhuras que facilitam o escoamento da \u00e1gua). A torre avisou que estava bem molhada e escorregadia.<\/p>\n Fato 3-Por que a torre n\u00e3o fechou o aeroporto? <\/strong><\/p>\n A classe dos controladores de v\u00f4o j\u00e1 reclamou muito, brigou muito, desgastou-se, amotinaram-se e perderam grande parte da sua credibilidade por falta de habilidade de negocia\u00e7\u00e3o. N\u00e3o ganharam a opini\u00e3o p\u00fablica para uma causa justa que se chama \u0091seguran\u00e7a\u0092 e por isso, por n\u00e3o saberem comunicar fatos, ganharam antipatia, \u00f3dio e tudo mais que todos sabemos.<\/p>\n Fechar um aeroporto daqueles, no hor\u00e1rio de pico…. era pris\u00e3o certa. \u0091Novo motim!\u0092<\/p>\n A imprensa iria publicar que os controladores de v\u00f4o estavam querendo \u0091melar\u0092 as f\u00e9rias da fam\u00edlia brasileira, etc, etc. Restou ao controlador alertar por mais de tr\u00eas vezes ao piloto que a pista estava”molhada e escorregadia.”<\/p>\n Fato 4-Os freios <\/strong><\/p>\n Parar um avi\u00e3o de v\u00e1rias toneladas de peso numa pista que possui 1900 metros de comprimento (principal) e 1400 metros na auxiliar exige um perfeito sistema de frenagem. N\u00e3o h\u00e1 em Congonhas zona de escape. Errou, dan\u00e7ou.<\/p>\n Grama… muito pouca. Quase nada.<\/p>\n Parar um avi\u00e3o que estava no limite de peso para pouso, para aquela pista, exigiria que todo o sistema e freios estivesse perfeito. Mas n\u00e3o estava.<\/p>\n Fato 5-O reverso \u0091pinado\u0092 <\/strong><\/p>\n Reverso \u0091pinado\u0092 \u00e9 uma express\u00e3o que os piloto usam quando o reverso do avi\u00e3o n\u00e3o est\u00e1 funcionando e precisa ser travado. Quando isso acontece o mec\u00e2nico retira um pino de seguran\u00e7a de um lugar e p\u00f5e em outro travando o mecanismo de reverso. Isso \u00e9 feito para evitar que abra acidentalmente (raz\u00e3o do acidente Fokker 100 TAM tamb\u00e9m em Congonhas). \u00c9 uma opera\u00e7\u00e3o simples e que a grande maioria das pessoas consegue fazer.<\/p>\n Mesmo assim, dizem, o avi\u00e3o pode pousar sem problemas. Mas n\u00e3o em todas as condi\u00e7\u00f5es e em uma delas ficou provado que n\u00e3o: Congonhas com chuva, avi\u00e3o pesado, reverso “pinado”.<\/p>\n O avi\u00e3o pousou no lugar certo, n\u00e3o conseguiu parar e na velocidade que estava n\u00e3o conseguiria decolar. Ou seja: n\u00e3o dava pra parar o avi\u00e3o na pista com aqueles freios, aquele peso e numa pista molhada. Tamb\u00e9m n\u00e3o dava para decolar, pois a pista curta n\u00e3o garantia que a aeronave chegasse a velocidade para poder arremeter. Pior, ou era tenta isso ou morrer, pois n\u00e3o tinha zona de escape. Eles tentaram… n\u00e3o deu.<\/p>\n Fato 6-Uma trag\u00e9dia anunciada <\/strong><\/p>\n De nada adianta a TAM tentar minimizar o fato do reverso “pinado”. Na realidade a soma de todos esses fatores fez com que esse acidente acontecesse. Todo mundo sabia, ningu\u00e9m acreditava e nem fez nada pra mudar… agora acreditam.<\/p>\n Fato 7-Tudo normal, aeroporto aberto e n\u00famero de v\u00f4o trocado. <\/strong><\/p>\n Maior indigna\u00e7\u00e3o de pilotos foi ver que o aeroporto estava funcionando no dia seguinte normalmente com seus 48 v\u00f4os programados para aquele dia.<\/p>\n O v\u00f4o que caiu, o 3054, trocou de n\u00famero, mas era o mesmo v\u00f4o, o mesmo tipo de aeronave, no mesmo aeroporto, na mesma hora e com as mesmas condi\u00e7\u00f5es de pista-ou seja-molhada. Esse v\u00f4o esperou 20 minutos voando (al\u00e9m de 1h e 30m que dura o v\u00f4o e Porto Alegre a S\u00e3o Paulo) pelos c\u00e9us de S\u00e3o Paulo at\u00e9 que a pista secasse e oferecesse condi\u00e7\u00f5es de pouso.<\/p>\n Em qualquer lugar s\u00e9rio, esse aeroporto estaria fechado at\u00e9 que o grooving <\/em> estivesse funcionando. Pelo menos isso.<\/p>\n As caixas-pretas (que na realidade s\u00e3o de cor laranja) dos avi\u00f5es de hoje possuem tecnologia avan\u00e7ada. Antes gravavam 30 minutos em sistema sem-fim com um rolo de fita cassete. Hoje o sistema \u00e9 digital e grava duas horas. Assim toda a viagem foi gravada em \u00e1udio e telemetria, segundo-a-segundo. Ser\u00e1 poss\u00edvel determinar at\u00e9 o ponto da pista onde o avi\u00e3o tocou o solo e o momento exato do impacto.<\/p>\n Apesar de podermos dizer que essa trag\u00e9dia, ou assassinato, como queiram, poderia ser evitada, acredito que esse momento, mais uma vez, confirma a Teoria do Caos: quando nada parece fazer sentido, volte ao in\u00edcio para entender como tudo come\u00e7ou e descubra o novo padr\u00e3o.<\/p>\n O novo padr\u00e3o \u00e9 que dobramos a quantidade de v\u00f4os e n\u00e3o ampliamos a capacidade para pode receber e atender a tanta gente e a tantos avi\u00f5es. E quanto a voltar ao in\u00edcio, a Teoria do Caos nos lembra do acidente da GOL-o v\u00f4o 1907, num 737 no dia 29\/09\/2006 onde toca essa crise se anunciava e come\u00e7ava a transformar-se num caos.<\/p>\n A seguran\u00e7a vai melhorar, pois muito ser\u00e3o demitidos, companhias ser\u00e3o punidas, relat\u00f3rios bomb\u00e1sticos vir\u00e3o \u00e0 tona, mas, com o tempo, esqueceremos de lembrar que para que essa melhoria pudesse acontecer e decis\u00f5es viessem a ser tomadas, dois avi\u00f5es carregados de gente tiveram que se despeda\u00e7ar.<\/p>\n Vamos esquecer que essas vidas foram sacrificadas para mostrar erros para que possam ser corrigidos e que outras vidas sejam poupadas, por isso a minha homenagem particular parafraseando Winston Churchil: “nunca tantos deveram tanto a t\u00e3o poucos”.<\/p>\n Deu tudo errado. E quando tudo d\u00e1 errado…<\/p>\n Luis Sucupira <\/strong><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Dezessete, do Sete, de Dois Mil e Sete, Sete da Noite. “A diferen\u00e7a entre uma com\u00e9dia e uma trag\u00e9dia \u00e9 que, na com\u00e9dia, aparentemente, voc\u00ea n\u00e3o tem sa\u00edda.” Um acidente ou trag\u00e9dia \u00e9 provocado por um conjunto de fatores. V\u00e1rias coisas contribuem e n\u00e3o apenas uma. Que me perdoem meus amigos jornalistas, mas \u00e9 necess\u00e1rio …<\/p>\n