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{"id":209867,"date":"2011-01-02T10:52:03","date_gmt":"2011-01-02T12:52:03","guid":{"rendered":"http:\/\/www.bitscaverna.com.br\/luissucupira\/?p=209867"},"modified":"2011-01-02T10:52:03","modified_gmt":"2011-01-02T12:52:03","slug":"minha-vida-numa-moto-2005-uma-viagem-solo-de-fortaleza-a-salvador","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.luissucupira.com.br\/minha-vida-numa-moto-2005-uma-viagem-solo-de-fortaleza-a-salvador\/","title":{"rendered":"Minha vida numa moto: 2005, uma viagem solo de Fortaleza \u00e0 Salvador"},"content":{"rendered":"

\"\"Outubro de 2004 – A prepara\u00e7\u00e3o da \u00a0viagem solo.<\/strong><\/p>\n

O primeiro passo foi escolher o trajeto, mas antes disso precisava conhecer a moto em todos os aspectos: pilotagem, mec\u00e2nica e limites. Neste \u00faltimo ponto repousa o mais importante. Decidi pela rota Fortaleza \u2013 Salvador por ser uma rota com altern\u00e2ncia de trechos longos e curtos, com estradas movimentadas e trechos desertos, bons pontos de apoio e pontos sem apoio nenhum, segura em alguns trecos e hor\u00e1rios e insegura quanto a assaltos em outros trechos e anda por ser um desafio de m\u00e9dio porte em se tratando de realiz\u00e1-la solitariamente numa moto de baixa cilindrada.\u00a0Seriam 3.400 quil\u00f4metros de aprendizagem, emo\u00e7\u00e3o, liberdade, disciplina e determina\u00e7\u00e3o.\u00a0Fiz um curso de mec\u00e2nico profissional, ainda em S\u00e3o Paulo, pois morava l\u00e1 e havia retornado a pedido da empresa havia uns tr\u00eas meses. Consegui o manual de servi\u00e7os da moto, uma Mirage 250cc fabricada pela Hyosung e montada no Brasil pela Kasinski a qual personalizei como uma Harley. O manual de servi\u00e7os \u00e9 aquele que os mec\u00e2nicos usam para se orientar quanto a defeitos, reparos, sintomas, regulagens e calibra\u00e7\u00f5es.<\/p>\n

Passo seguinte foi treinar em trechos curtos de at\u00e9 250km nos trechos de ida. Estes treinos ajudaram a posicionar melhor a coluna, aprender a se defender de tr\u00e2nsito pesado e dos ventos laterais e frontais, deslocamentos de ar provocados pela passagens de carros pesados, chuva, descobrir hor\u00e1rios bons e os ruins, praticar a m\u00e9dia hor\u00e1ria, autonomia, equipamentos de seguran\u00e7a e ferramental, inclusive pe\u00e7as.<\/p>\n

A outra etapa estava relacionada a disciplina. Essa parte estava ligada a hor\u00e1rios e limites para sair, desenvolver, evitar e parar. Cada etapa desta \u00e9 muito importante para se atingir os objetivos. Junto com isso precisava relacionar as pe\u00e7as de reserva, kit de primeiros socorros e vestu\u00e1rio adequado. Teria que escolher a t\u00e1tica certa para a estrat\u00e9gia estabelecida.<\/p>\n

Passada a fase de prepara\u00e7\u00e3o, passei ao segundo passo que foi estudar detalhadamente a estrada e os trechos para definir quando e onde parar.\"\"Pesquisas e informa\u00e7\u00f5es, mapas, meteorologia confi\u00e1vel com previs\u00e3o segura para 5 dias e incluir no trecho horas de parada e um ponto alternativo de pernoite\u00a0 caso uma pane levasse mais que tr\u00eas horas para ser resolvida, pois uma premissa seria n\u00e3o rodar \u00e0 noite. Se isso fosse necess\u00e1rio o faria em \u00faltimo caso mas apenas para chegar a um lugar seguro.<\/p>\n

N\u00e3o cair. N\u00e3o for\u00e7ar o equipamento. N\u00e3o exagerar e n\u00e3o esquecer a disciplina. N\u00e3o acidentar-se e acima de tudo chegar vivo e inteiro, tanto eu quanto a moto e no prazo estabelecido. Era importante lembrar sempre que estava s\u00f3 e que contava apenas comigo mesmo e com Deus, pois qualquer outra ajuda poderia ser perigosa de aceitar e se aceitasse e tudo desse certo seria contar com o fator sorte. Como sorte \u00e9 a soma de prepara\u00e7\u00e3o com oportunidade, estaria tranquilo se fizesse a minha parte.<\/p>\n

\"\"Pode parecer estranho, mas o motociclismo, mesmo em grupo, \u00e9 um esporte solit\u00e1rio. Ainda que viaje com uma garupa, quase nenhum di\u00e1logo \u00e9 trocado fora do estritamente essencial. \u00c9 olhar e curtir sem perder a aten\u00e7\u00e3o e a concentra\u00e7\u00e3o. Costumo dizer que n\u00e3o existe prazer sem prote\u00e7\u00e3o e a liberdade imp\u00f5e limites e a aventura nada mais \u00e9 do que escolher um objetivo, tra\u00e7ar metas e chegar no prazo acertado. Parece irresponsabilidade, mas a verdadeira aventura \u00e9 totalmente formatada na responsabilidade do esportista, no controle e na vis\u00e3o de que cada etapa alcan\u00e7ada nos conduz ao objetivo final.<\/p>\n

Depois de estudado o mapa e avaliado os trechos, o pr\u00f3ximo movimento seria definir os pontos de parada. Defini que seria poss\u00edvel andar por 8 ou nove horas seguidas para cobrir trechos de 700km diariamente.<\/p>\n

A minha planilha di\u00e1ria de rotinas estava dividida da seguinte forma: <\/strong><\/p>\n

Dormir \u00e0s 21:30
\nAcordar \u00e0s 4:30 da madrugada.
\n60 minutos para higiene pessoal e caf\u00e9 da manh\u00e3.
\n30 minutos para arrumar a bagagem, conferir vazamentos, estado dos pneus, freios, \u00f3leo de freio e motor e poss\u00edveis falhas.
\n30 minutos para abastecer a moto e pegar dinheiro se precisar.
\n30 minutos para estar saindo da regi\u00e3o metropolitana da cidade e assim evitar o tr\u00e2nsito pesado.<\/p>\n

Na chegada:<\/strong><\/p>\n

60 minutos para estacionar a moto em local seguro, descarregar a bagagem e descansar para baixar a adrenalina e sentar as id\u00e9ias.
\n60 minutos para lavar e revisar a moto. Conferir parafusos, estado geral da m\u00e1quina,\u00a0 reapertos necess\u00e1rios de bra\u00e7adeiras, porcas e parafusos. Verificar vazamentos e estado dos pneus.
\nMais 60 minutos para higiene pessoal e um bom jantar.
\nAt\u00e9 as 21:30hs aproveitar para confirmar a meteorologia e conferir o estado da estrada do dia seguinte conversando com pessoas que estavam em tr\u00e2nsito no sentido contr\u00e1rio ao meu.
\nPassar uma mensagem para os amigos da lista informando um breve resumo do dia.
\nDormir bem e acordar no hor\u00e1rio. N\u00e3o esquecer que amanh\u00e3 tem mais 08 ou 09 horas de viagem.<\/p>\n

<\/strong><\/p>\n

<\/strong><\/p>\n

S\u00e1bado, 29 de janeiro de 2005 –\u00a0Come\u00e7ou a viagem!<\/h2>\n


\n<\/strong><\/p>\n

N\u00e3o posso negar que a ansiedade n\u00e3o me deixou dormir na noite v\u00e9spera do primeiro dia de viagem. A excita\u00e7\u00e3o era grande e eu n\u00e3o conseguia imaginar outra coisa a n\u00e3o ser estar na estrada. Misturada a essa sensa\u00e7\u00e3o estava a checagem de cada ponto, de cada cuidado e de cada a\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

\"\"Levantei na hora certa. Arrumei a moto e decidi n\u00e3o tomar o caf\u00e9 em casa mas no posto. Acreditava que se sa\u00edsse de casa logo e estivesse num posto estaria mais calmo e a ansiedade j\u00e1 n\u00e3o seria t\u00e3o grande. Deu certo! Tomei meu caf\u00e9 da manh\u00e3 no posto. Enquanto abastecia a moto eu conferia todo equipamento e todos os itens de seguran\u00e7a. Ajustava mapas e cron\u00f4metros e zerava o od\u00f4metro. Elaborava as mensagens para serem enviadas via celular\/SMS para a lista de pessoas que iriam monitorar a viagem.<\/p>\n

Enquanto tomava caf\u00e9 relembrei todas as etapas que havia passado, tudo o que foi planejado, todos os detalhes. Era a hora da verdade! Ainda dava pra desistir, mas eu n\u00e3o pensava nisso. Subi na moto, fiz uma ora\u00e7\u00e3o, dei a partida e o motor falou alto como que pedindo tamb\u00e9m para chegar logo na estrada. Preparei a primeira mensagem e disparei. Eram 07 e 30 horas da manh\u00e3 de s\u00e1bado do dia 29 de janeiro de 2005. Um belo dia. Calmo. Boa parte da cidade ainda dormia e eu sabia que com certeza boa parte dos colegas que estavam na lista de torpedos tamb\u00e9m. Bom, iria acord\u00e1-los, mas assim foi pedido. Torpedo enviado. Em seguida recebo a confirma\u00e7\u00e3o de entrega das mensagens passo a primeira e …. estrada!<\/p>\n

No come\u00e7o andei com um cuidado exagerado, na ponta dos dedos e das botas, pois a ansiedade poderia estragar tudo. Deveria prestar aten\u00e7\u00e3o na moto, no seu desempenho, na estrada e na meteorologia. Come\u00e7ar o dia lambuzado de chuva n\u00e3o \u00e9 nada agrad\u00e1vel.<\/p>\n

Saio da cidade e pego a CE 040. Pista dupla, tranq\u00fcila. Esta \u00e9 um das avenidas de Fortaleza que mais t\u00eam acidentes graves. No caminho ia me perguntando quantos carros ficaram em postes da noite de sexta para s\u00e1bado. Apostei em tr\u00eas. Para minha felicidade eu errara. Apenas um havia acertado sozinho um poste e pela batida nada mais grave, apenas preju\u00edzos materiais.<\/p>\n

Passei a Prainha, Iguape, Cascavel, Beberibe, Parajuru, Fortim e Aracati. Neste momento decidi que n\u00e3o ia parar para abastecer e iria tentar chegar com o mesmo tanque em Mossor\u00f3 no Rio Grande do Norte. Seriam 260km. Se meus c\u00e1lculos estivessem certos, chegaria l\u00e1 quase na reserva. Ainda era cedo. Na estrada, perto de Parajuru peguei 1km de chuva isolada. Aquela chuvinha chata, localizada que cai num s\u00f3 ponto da estrada. Passei de Aracati e caminhei rumo a Mossor\u00f3. Quando vejo a placa que informa a divisa do Cear\u00e1 com o Rio Grande do Norte senti que a viagem estava come\u00e7ando e que daquele ponto em diante meu planejamento tinha que funcionar. Havia acabado de passar da entrada de Icapui e alguns quil\u00f4metros adiante j\u00e1 estava no Rio Grande do Norte. O asfalto mudou. Era mais claro e mais parecia com concreto. Olhei no mapa de navega\u00e7\u00e3o e ele me dizia que faltavam cerca de 50km para chegar a Mossor\u00f3. Olhei o marcador de combust\u00edvel e ele havia baixado bastante. Conferi o od\u00f4metro. Estava certo, mas eu n\u00e3o sabia quanto de gasolina realmente havia dentro do tanque. Primeiro susto: ser\u00e1 que errei a autonomia da moto? Ser\u00e1 que estava consumindo muito? Olhei \u00e0 frente e no mapa em busca de um posto de gasolina, mas s\u00f3 haveria um em Mossor\u00f3. Decidi relaxar e confiar na minha conta e no meu planejamento. Havia feito e refeito aqueles c\u00e1lculos v\u00e1rias vezes e conhecia a m\u00e1quina. Era uma outra hora da verdade. E mais: se chegasse na reserva daria para ficar em pane seca j\u00e1 dentro de Mossor\u00f3. Toca pra frente!. Um ret\u00e3o e\u00a0\u00a0algumas cruzes na estrada mostravam que o sono e os animais haviam levado algumas pessoas para outra vida. Olho no mato alto e em qualquer movimenta\u00e7\u00e3o estranha que pudesse parecer com animais na pista. L\u00e1 na frente uma curva…. estava louco para encontrar uma placa de sinaliza\u00e7\u00e3o para confirmar quantos quil\u00f4metros faltavam. Feita a curva descortina-se o anel de contorno com as Placas dizendo Mossor\u00f3 a 10km e ainda sa\u00eddas para Tibau, Areia Branca e Grossos. N\u00e3o me contive. Olhei o od\u00f4metro e reconferi meus c\u00e1lculos. Estavam certos! Podia mesmo confiar! No posto escolhido parei. Desci, me hidratei, usei o banheiro e comi uma barra de chocolate e tomei um\u00a0Night Power<\/em> para estimular um pouco mais. Conferi a moto. Estava tudo ok. Abasteci e refiz os c\u00e1lculos. Precisaria reabastecer em A\u00e7u para poder chegar com seguran\u00e7a a Natal. Seriam quase 290km de estrada.<\/p>\n

Antes de sair percebi que uma patrulha da pol\u00edcia passou pelo posto e como a minha jaqueta camuflada com ins\u00edgnias da II Guerra e a moto chamaram a aten\u00e7\u00e3o resolveram parar l\u00e1 na frente. O sargento da patrulha atravessou o posto e bem simp\u00e1tico perguntou se era militar. Disse que n\u00e3o. Ele me disse que n\u00e3o deveria utilizar aquela jaqueta pois o pessoal ali n\u00e3o gostava de militar e eu poderia ser agredido. Agradeci e disse a ele que iria tomar cuidado mas que n\u00e3o iria tirar minha jaqueta. Perguntou se iria pernoitar na cidade. Disse que n\u00e3o. Neste momento notei que outra viatura chegara. De longe percebi que falavam de mim. N\u00e3o dei bola e continuei a tocar o que estava fazendo. Quando percebeu que eu, apesar de simp\u00e1tico, n\u00e3o esticava muito a conversa resolveu despedir-se e foi embora. Antes perguntou se queria escolta at\u00e9 fora da cidade. Disse que n\u00e3o. Agradeci. Enviei as mensagens para o grupo, abasteci e fui embora. Tinha mais 290km para rodar e um calor infernal pela frente. J\u00e1 eram cerca de 10 horas da manh\u00e3.<\/p>\n


\n<\/strong><\/p>\n

S\u00e1bado, 29 de janeiro de 2005 –\u00a0Mossor\u00f3 \u2013 Natal:\u00a0a nossa Rota 66.<\/strong><\/h2>\n

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Qualquer semelhan\u00e7a com a famosa e lend\u00e1ria Rota 66 dos Estados Unidos, n\u00e3o \u00e9 mera coincid\u00eancia! \u00c8 isso mesmo! Este trecho \u00e9 um teste para qualquer piloto de moto. A temperatura ambiente em dias claros, de vento e calor oscila entre 34 e 38 graus. Some-se a isso a temperatura do corpo recoberto pelas prote\u00e7\u00f5es e mais a temperatura do asfalto que chega a 54 graus ao meio-dia… pronto! Voc\u00ea est\u00e1 na recep\u00e7\u00e3o do que poderia ser o Inferno. Num carro nada disso \u00e9 percebido, pois voc\u00ea viaja protegido pela lataria, teto(sombra) e pelo ar condicionado(se tiver um). Mas esse \u00e9 o princ\u00edpio do motociclismo: controlar as vari\u00e1veis e seguir. Adaptar-se rapidamente, sentir o tempo, o vento e o clima… prever, corrigir. Saber andar e parar. S\u00e3o 290km de asfalto ondulado, mato as vezes alto, muito calor e v\u00e1rios caminh\u00f5es no sentido contr\u00e1rio. O vento, na ida, \u00e9 sempre contra, como que teimando em dizer a voc\u00ea que prosseguir \u00e9 coisa de corajosos, guerreiros… de Guerreiros do Sol!<\/p>\n

Os caminh\u00f5es passam e atr\u00e1s deles um vento que te joga pra tr\u00e1s. Um s\u00f3 chacoalhado desses at\u00e9 que ajuda a acordar e a subir a adrenalina, mas quando passam tr\u00eas, levar tanta porrada de vento, enche o saco! Mas existe um macete! Lembra como se faz para se livrar das ondas do mar quando voc\u00ea resolve entrar al\u00e9m da arrebenta\u00e7\u00e3o? \u00c8 a mesma coisa. Basta abaixar a cabe\u00e7a e passar por baixo da onda. Isso mesmo. O vento vem como uma onda que voc\u00ea n\u00e3o v\u00ea, ai voc\u00ea se abaixa e ele passa por cima. Isso! Basta fazer isso e o efeito acaba.<\/p>\n

Mas voltemos a estrada. Como disse, a autonomia da moto n\u00e3o garantia chegar at\u00e9 Natal sem entrar na reserva. Mandava meu planejamento reservar quatro litros para as emerg\u00eancias, pois n\u00e3o tinha espa\u00e7o para levar dois litros de gasolina de reserva na moto. Pela m\u00e9dia por quil\u00f4metro rodado, cerca de 25 km por litro, daria pra chegar \u2018no cheiro\u2019, como dizem, mas a precau\u00e7\u00e3o manda ter pelo menos 100km de reserva em autonomia. Dois litros no principal e mais dois na reserva. Por conta disso precisaria abastecer em A\u00e7u, que fica a 70km de Mossor\u00f3.<\/p>\n

Dizer que motos parecem com avi\u00f5es, em alguns aspectos, n\u00e3o \u00e9 exagero de paix\u00e3o. \u00c9 verdade! Autonomia e reserva s\u00e3o fundamentais e esse \u00e9 um dos princ\u00edpios da avia\u00e7\u00e3o al\u00e9m do princ\u00edpio da redund\u00e2ncia. Encher o tanque e usar dois ter\u00e7os ou a metade sempre. Foi por ai que eu fui e n\u00e3o errei mesmo quando vi o ponteiro baixar muito.<\/p>\n

Em a\u00e7u parei para abastecer na bandeira do posto Ipiranga, mas alguns quil\u00f4metros depois percebi que a moto perdeu rendimento e em algumas vezes falhou. \u201c-Gasolina suja!\u201d Pensei. Mas era mais que isso. Misturada e talvez batizada. Ai come\u00e7ou a minha dor de cabe\u00e7a: rodar pra ver o que acontecia. Estava depois de Lages, entre o nada e lugar nenhum. Tinha que equalizar a m\u00e1quina e reequilibrar a mistura. Menos rica em ar e mais em combust\u00edvel para evitar superaquecimento e falhas. Regulagem feita, em seguida me toquei que o ajuste reduziria a minha autonomia, mas eu n\u00e3o sabia em quanto. Recalculei de cabe\u00e7a para 19km por litro e assim estaria em Natal na reserva. Errei dois quil\u00f4metros. Cheguei em Natal quase na reserva. Baixei toda a gasolina batizada e adicionei um aditivo Bardhall laranja junto com a nova gasolina. BINGO! Acertei! O curso de mec\u00e2nico e de pilotagem ajudou muito. Posso dizer: se pagou. A moto voltou ao normal depois de alguns quil\u00f4metros. Belo motor! Na parada, conheci, no posto, um casal simp\u00e1tico: senhor e senhora Jorge Blanco, um argentino que mora em Natal e que possui uma Harley-Davidson. Conversamos por meia-hora, trocamos cart\u00f5es e depois partir.<\/p>\n

\"\"\"\"A estrada para Jo\u00e3o Pessoa, na Para\u00edba \u00e9 um tapete! O vento j\u00e1 n\u00e3o era frontal, mas lateral, mas suave. Muitas subidas e descidas, pista dupla para ultrapassagem, mas um trecho tranq\u00fcilo, mais fresco e menos Rota 66. O visual \u00e9 bel\u00edssimo, verde, limpo e com cheiro do mato e de cana de a\u00e7\u00facar. Muito com\u00e9rcio na estrada. Artesanato, frutas, comidas e bebidas. Vendem de tudo. Da carne seca, passando pelo carneiro, indo at\u00e9 as frutas frescas e uma deliciosa \u00e1gua de coco. Mas n\u00e3o podia parar para apreciar isso. Tinha um prazo a cumprir, por op\u00e7\u00e3o minha. 180km depois vejo a placa : Jo\u00e3o Pessoa a 30km. SHOW! Ia poder descansar e descer da moto. A bunda do\u00eda por conta dos p\u00ealos que estavam sendo arrancados \u00e0 for\u00e7a pelo atrito com a cela e pela posi\u00e7\u00e3o, mas nada tirava a vontade de poder rodar 700 km num dia, numa moto. Uma coisa que fiz foi usar para amaciar um par de luvas L\u00famica. Queria amaciar o couro. Quando cheguei em Jo\u00e3o Pessoa, a ponta dos meus dedos do\u00eda como se as minhas unhas tivesse sido machucadas, parecia que elas iam entrar na carne de volta, pela cabe\u00e7a dos dedos. Mas as luvas estavam amaciadas. \u201c-Amanh\u00e3 seriam mais confort\u00e1veis.\u201d Esperava eu. Cheguei em Jo\u00e3o Pessoa. Aproveitei para curtir o sol e ver a orla da cidade que escolhi para morar. LINDA! GOSTOSA! A cidade dos meus sonhos!<\/p>\n

Fiquei hospedado na Pousada do Caju. Muito boa e acostumada a receber motociclistas. O tratamento \u00e9 diferenciado pois a moto fica quase dentro do quarto. Moto guardada, bagagem tirada, cerveja aberta. Hora de avisar a todos da lista, via torpedo, que cheguei inteiro e em paz e na hora. Eram 15:30 horas.<\/p>\n

Cumpri a disciplina de chegada. Conferi tudo, lavei a moto, chequei todos os parafusos, lubrifiquei e fui ao banho. Que banho! Quase n\u00e3o consegui sair. Jantei como um rei, pois almocei como um pobre \u2013 s\u00f3 barras de cereais e chocolate. Comer na estrada d\u00e1 sono e transfere sangue para o est\u00f4mago e diminui reflexos. Barras de cereais e chocolate ajudam a n\u00e3o perder a concentra\u00e7\u00e3o. A velha Coca-Cola tamb\u00e9m ajuda bastante, mas o que n\u00e3o deve faltar, em cada parada \u00e9 uma boa garrafa de \u00e1gua mineral com g\u00e1s. Por que com gas? Refresca e hidrata demoradamente al\u00e9m de retardar a vontade de urinar. Outra prote\u00e7\u00e3o e garantir-se contra o reenvasamento da \u00e1gua. Alguns postos t\u00eam o h\u00e1bito de preencher a garrafa e n\u00e3o se sabe a proced\u00eancia. E mesmo que n\u00e3o seja verdade n\u00e3o vale a pena correr o riso. Tome refrigerante e \u00e1gua mineral com g\u00e1s, mesmo que n\u00e3o goste. \u00c9 para sua prote\u00e7\u00e3o. Andar de moto com dor de barriga \u00e9 o fim!<\/p>\n

Avaliei o trecho e me dei uma nota. 10! Tudo certo. Tuda a avalia\u00e7\u00e3o e solu\u00e7\u00f5es aplicadas foram corretas, tanto em pilotagem quanto em mec\u00e2nica.<\/p>\n

Liguei a TV. O sono bateu forte. Programei o celular como despertador e apaguei! Amanh\u00e3 tinha mais 700 km para vencer. E mais uma vez sozinho!.<\/p>\n

\"\"<\/p>\n


\n<\/strong><\/p>\n

30 de janeiro de 2005\u00a0Jo\u00e3o Pessoa a Aracaju:
\nBeleza e perigo num dia de domingo.<\/strong><\/h2>\n

<\/strong><\/p>\n

<\/strong><\/p>\n

\"\"Amanhece o dia. Toca o despertador. Me levanto e fa\u00e7o os alongamentos. A m\u00e3o j\u00e1 n\u00e3o d\u00f3i e a bunda nem tanto, mas tenho que cumprir meu trajeto. Mais 700km at\u00e9 Aracaju pela trilha do mar, passando pela travessia de balsa entre Penedo, Al e Ne\u00f3polis-Se. Meu objetivo \u00e9 atravessar a Para\u00edba, Pernambuco, Alagoas e a metade de Sergipe at\u00e9 Aracaj\u00fa. Canaviais, treminh\u00f5es e ventos de toda ordem. Mas as paisagens deslumbrantes me esperam. Como dizem, de carro voc\u00ea comp\u00f5e e passa pela paisagem. Numa moto, voc\u00ea \u00e9 a paisagem. Ent\u00e3o, m\u00e3o no acelerador e ESTRADA!<\/p>\n

Antes precisava consertar um curto. O fus\u00edvel da moto queimou e fiquei no escuro ou pior: apagado. Uma liga\u00e7\u00e3o para o Jac\u00f3, mec\u00e2nico e o problema foi resolvido \u00e0 noite anterior mesmo. Mais n\u00e3o podia viajar sem um fus\u00edvel de reserva. Mas como achar uma loja de moto aberta \u00e0s 7 e 30 da manh\u00e3 de um domingo em Jo\u00e3o Pessoa? Bom. Me deram a dica que perto da rodovi\u00e1ria encontraria uma. Fui. N\u00e3o tinha outra alternativa. No caminho encontrei um oficina. Mistura de ferro velho com oficina, parei e procurei encontrar o fus\u00edvel que precisava para reserva.<\/p>\n

Uma coisa interessante \u00e9 que, geralmente, mec\u00e2nico de carro n\u00e3o entende de moto e vice-versa. Mas a semelhante n\u00e3o \u00e9 distante. Perguntei a ele onde tinha uma sucata que possu\u00eda a caixa de fus\u00edveis intacta. Ele me mostrou um Chevette 1981. Este Chevette j\u00e1 vinha equipado com os fus\u00edveis de chapinha diferenciados em cor. Bastou mexer l\u00e1 e uns cinco reais e eu tinha mais 5 fus\u00edveis de reserva. Na d\u00favida, pois n\u00e3o sabia a causa ainda, coloquei um fus\u00edvel de 20 amp\u00e9res. Liguei a moto, testei os far\u00f3is e fui! J\u00e1 eram quase 9 horas da manh\u00e3.<\/p>\n

Este seria o dia que me daria nota 7 pelo desempenho. Este foi o dia em que aprendi que excesso de confian\u00e7a e afoba\u00e7\u00e3o podem colocar tudo a perder. Aprendi e reaprendi o autocontrole.<\/p>\n

De Jo\u00e3o Pessoa \u00e1 Recife \u00e9 um passeio. S\u00e3o menos de 110 km de estrada e que pela hora que escolhi e o dia da semana, estava tudo tranq\u00fcilo. Mas a tranq\u00fcilidade acaba quando se chega no anel vi\u00e1rio de Recife. Perdi, mesmo sem errar o caminho e as conex\u00f5es de pista cerca de 40 minutos at\u00e9 sair realmente da cidade e entrar na litor\u00e2nea que passa pela entrada para Porto de Galinhas.<\/p>\n

Tr\u00e2nsito pesado, muitos caminh\u00f5es e muitos carros de passeio com destino \u00e0 praia. Mais tempo perdido. O calor j\u00e1 come\u00e7ava a incomodar. Resolvi parar para dar um tempo. Bebi \u00e1gua, lanchei uma barrinha de cereal, abasteci e estrada! Depois que sa\u00ed da zona de Porto de Galinhas segui rumo a S\u00e3o Jos\u00e9 da Coroa Grande, ainda em PE. Esse seria o ponto que saberia estar mais perto de\u00a0\"\"
\nMacei\u00f3,Al. At\u00e9 l\u00e1 a estrada \u00e9 um tapete, cheia de curva, o que motociclista adora e pouco tr\u00e2nsito. At\u00e9 os treminh\u00f5es(caminh\u00f5es com duas carretas pr\u00f3prios para levar cana) estavam de folga. Vi apenas uns cinco, quando o normal seria ter que ultrapassar uns 20 ou mais. A cana estava em boa parte colhida.
\n\"VejaA tranquilidade que senti com a falta dos treminh\u00f5es e do tr\u00e2nsito pesado, mesmo com pista limpa, outro problema t\u00e3o ruim apareceu e durou por muitos trechos da estrada: o vento lateral que corria livre agora que a cana-de-a\u00e7ucar havia sido colhida. Pancada da direita e da esquerda. Vento transversal \u00e0 esquerda e \u00e0 direita, em diagonal e as vezes as porradas do deslocamento de ar provocados pelos caminh\u00f5es e \u00f4nibus. Tava na medida pra cansar. J\u00e1 havia tomado um susto quando me deslumbrei com a paisagem e cai na bobagem de dar uma espiadinha. Segundos que o olhar desviou foram suficientes para me fazer ir ao acostamento, que tinha buracos e ainda era um curva bem aberta. Andei pelo acostamento uns cinquenta metros at\u00e9 que consegui encontrar um ponto de sa\u00edda pra voltar \u00e0 estrada. Que susto! Dei um tempo e segui novamente. Dessa vez s\u00f3 iria olhar em retas e sempre \u00e0 frente.<\/p>\n

\"\"Chego a S\u00e3o Jos\u00e9 da Coroa Grande, em PE. Alguns quil\u00f4metros depois seria Alagoas. Era um domingo de sol maravilhoso, um dia lindo e um banho de mar seria tudo que precisava naquela hora quente.<\/p>\n


\n<\/strong><\/p>\n

<\/strong>A estrada \u00e0 beira-mar!<\/strong><\/h2>\n

<\/strong><\/p>\n

<\/strong><\/p>\n

Abasteci novamente, almocei uma meia barra de chocolate. \u00c0gua mineral, revis\u00e3o r\u00e1pida da moto: parafusos, porcas, vazamentos, folgas, pneus etc. Pronto! Hora de ir. As costas n\u00e3o do\u00edam e nem doeram, a cinta abdominal elimina as posturas erradas, mas a bunda… essa come\u00e7ou a incomodar. Uma paradinha e tudo melhorava.<\/p>\n

Estrada de novo. At\u00e9 Macei\u00f3 mais 115 km. No caminho n\u00e3o resisti \u00e0s bel\u00edssimas paisagens de Alagoas. Ia sempre vendo o mar e ele estava maravilhosamente pintado de azul quase emendando com o c\u00e9u de t\u00e3o limpo! Parei na estrada e fiz umas duas fotos. Demais!<\/p>\n

Voltei ao acelerador e em pouco tempo estava entrando em Macei\u00f3. Atravessei a orla quase toda. N\u00e3o precisa dizer que chamei muita aten\u00e7\u00e3o por conta da forma que eu estava vestido para um dia de domingo ensolarado e quente. Todo mundo de bermuda e sem camisa, biquinis de todas as cores, cerveja gelada\u00a0 e aquele maluco(eu) na moto todo vestido passando pela orla numa moto que parece ter sa\u00eddo de um filme americano. Mais na frente um desvio. Aos domingos parte da orla \u00e9 fechada para lazer. Peguei outro caminho e segui para a praia do Franc\u00eas. De l\u00e1 seriam mais 144 quil\u00f4metros que iriam demorar ainda um bom tempo. Na sa\u00edda do tr\u00e2nsito engarrafado para a praia do Franc\u00eas um outro susto. Um maluco distraiu-se e freiou bruscamente na minha frente. Estava bem pr\u00f3ximo do acostamento, que dessa vez era de boa qualidade. Rapidamente decidi ir pr\u00e1 l\u00e1 para dar espa\u00e7o de frenagem para o ve\u00edculo que vinha atr\u00e1s de mim. Deu certo. O carro detr\u00e1s parou bem perto do outro e eu me sai bem pelo acostamento. Depois, gentilmente o motorista do carro que estava atr\u00e1s de mim freiou e me deu a entrada da pista novamente. Agradeci. Ele fez um sinal t\u00edpico dos motociclistas com a m\u00e3o parcialmente fechada e apenas os dedos indicador e mindinho abertos. Agradeci repetindo o mesmo gesto e fui.<\/p>\n

\"\"\"\"\"\"<\/p>\n

Este trecho da estrada \u00e9 muito bonito, mas \u00e9 o mais solit\u00e1rio de todos. Muitas curvas, muito vento e morro pelado e sem-terra acampados na estrada. Alguns quil\u00f4metros adiante outro susto: numa curva toquei de leve o mata-cachorro. Briguei comigo. Chamei minha aten\u00e7\u00e3o pesadamente por baixo do capacete cobrando aten\u00e7\u00e3o e menos afoba\u00e7\u00e3o. Segui rumo a Penedo, Al. L\u00e1 ia pegar uma balsa e atravessar o Velho Chico. No caminho ainda tive tempo para relembrar outra coisa importante: ler a copa das \u00e1rvores e tomar cuidado com os descampados.<\/p>\n

Os maiores inimigos do motociclista de estrada s\u00e3o o vento, o excesso de confian\u00e7a, \u00f3leo na pista e a chuva forte e principalmente no in\u00edcio. Mas, talvez, o pior de todos seja mesmo a lufada surpresa de uma rajada de vento. \u00c9 igual a escorregar no \u00f3leo. N\u00e3o tem sa\u00edda: \u00e9 ch\u00e3o certo. \u00c9 o chamado tombo bobo comum de acontecer em entradas de postos onde transitam muitos ve\u00edculos pesados. Aten\u00e7\u00e3o nas copas e no ch\u00e3o. Manchas escuras na pista devem ser evitadas a todo custo. Outra coisa a se observar s\u00e3o as copas das \u00e1rvores, principalmente quando, voc\u00ea, est\u00e1 entrando naqueles morros cortados pela estrada. O vento faz um cano e hora sobe e hora desce e as vezes faz um redemoinho bem no meio. A hora que voc\u00ea trafega tamb\u00e9m pesa pra piorar o efeito. Eram umas 14 horas e vento estava a mil. Interessante foi ver na pr\u00e1tica uma dica de viagem. Ao entrar num morro cortado pela estrada o vento jogou para o centro da pista para o lado oposto. Depois que corrigi o vento agora, ainda dentro do morro, me jogou para fora. Olhei para a copa de um coqueiro e ele me avisava pela dire\u00e7\u00e3o das palhas, como um biruta de aeroporto, de onde vinha o vento: contr\u00e1rio \u00e0 tangente da curva que era para esquerda descendo. Diminu\u00ed a marcha e entrei na curva um pouco abaixado com a velocidade que achei mais segura. Deu certo. Livrei a pancada do vento que quase n\u00e3o senti a n\u00e3o ser pela sensa\u00e7\u00e3o de frescor que ele trazia.<\/p>\n

\"\"Alguns quil\u00f4metros adiante\u00a0 vejo umas das mais bonitas paisagens da minha vida: o Mirante da Praia do Gunga. Parei. Tinham muitos carros parados fazendo a mesma coisa: apreciando. Resolvi ficar uns minutos a mais engrossando o grupo que deleitava-se com aquela pintura que s\u00f3 Deus poderia fazer. Bati uma fotos, tomei bastante \u00e1gua e voltei a estrada. Mais adiante cheguei a Penedo, Al. Posicionei a moto na fila pra Balsa e esperei tomando um refrigerante bem gelado e comendo a \u00faltima barra de chocolate do dia, pois o que levava era apenas uma reserva de emerg\u00eancia. O S\u00e3o Francisco \u00e9 realmente soberano e acreditam alguns que seja o \u2018cora\u00e7\u00e3o do Brasil\u2019. Depois do que vi penso que seja mesmo. Me perguntei: por que n\u00e3o transpor 1% dessa \u00e1gua que vai para o mar, inevitavelmente, para matar a sede e a fome do Pol\u00edgono das Secas? Muita maldade e ego\u00edsmo. Se eu tinha alguma d\u00favida sobre a transposi\u00e7\u00e3o, a partir daquele momento, era s\u00f3 certeza.<\/p>\n

\"\"
\nA balsa chegou. Entram primeiro os carros depois as motos e as bicicletas. Somos os \u00faltimos a entrar e os primeiros a sair. Na balsa tomei uma \u00e1gua de coco e puder ver o sol se armar avisando o in\u00edcio do fim da tarde. Dei adeus a Pen\u00eado\u00a0 e fui no sentido de Sergipe. Estava perto de Aracaju.<\/p>\n

Saindo da balsa segui at\u00e9 a BR 101. Confesso que esse n\u00e3o era o hor\u00e1rio que gostaria de pegar essa estrada. Muita gente voltando das praias e s\u00edtios, fim de domingo…. bebedeira, imprud\u00eancia. Bom, agora a aten\u00e7\u00e3o seria total. J\u00e1 perto de Aracaju, na BR 101 encontrei um pessoal meio maluco andando de moto. Eram as famosas CGs e os pirados estavam andando deitados no tanque a mais ou menos uns 120km por hora. S\u00f3 se ouvia um o som semelhante a um carro de autorama em alta velocidade a passar por voc\u00ea. Ziiiiimmmimimim….. l\u00e1 se vai outra. Deus os proteja e a mim tamb\u00e9m. Pensei. Chegando em Aracaju, bem na entrada um engarrafamento por conta de um entroncamento que nunca ficou pronto. Dois sustos. Um freio brusco, quase uma batida de dois carros que poderia se transformar num engavetamento de tr\u00eas ou mais. Fui pelo acostamento seguindo um grupo de motos speed. Sai rapidamente dali, mas descuidei da altura do asfalto e bati mais uma vez o mata-cachorro na borda do asfalto que de t\u00e3o ondulado, parecia um degrau para quem vinha do acostamento. J\u00e1 nem me zanguei mais comigo, apenas tirei mais um ponto da minha nota de desempenho di\u00e1rio que costumo me dar para cada trecho. De oito cai para sete e iria me manter ai at\u00e9 chegar ao hotel. O mata-cachorro suportou bem. N\u00e3o amassou.<\/p>\n

Cheguei no hotel \u00e0s dezoito horas em ponto. Umas duas horas atrasado. Atraso que computei ao tr\u00e2nsito em Recife e em Macei\u00f3 e parte de Aracaju. Muito carro, muita gente na praia e n\u00e3o era para menos, pois era um indo domingo de sol.<\/p>\n

Lavei a moto, mandei as \u00faltimas mensagens e fui lavar a moto. Bati dois sandu\u00edches e passei uma hora no banho. Conferi a meteorologia e revisei mentalmente as besteiras do dia e os acertos. Sete! Essa seria a nota que iria levar. Merecia. Orei e agradeci a Deus por tudo e pelas li\u00e7\u00f5es e fui dormir depois de ligar o melhor son\u00edfero: a tv. Logo em seguida cai em sono profundo.<\/p>\n

Segunda-feira, 31 de janeiro de 2005 – Aracaju a\u00a0 Salvador pela Linha Verde
\nUm posto longe demais!<\/h2>\n

\"\"<\/p>\n

\"\"Pela manh\u00e3 depois de tudo arrumado e de caf\u00e9 tomado fui pegar dinheiro no shopping. Abasteci e ainda no trecho urbano fazia minhas ora\u00e7\u00f5es e relembrava os sustos e disse a mim mesmo: Vou tirar um dez hoje! E foi isso que aconteceu.<\/p>\n

Calculei a autonomia e sa\u00ed em dire\u00e7\u00e3o a linha verde. Fiz quest\u00e3o de pegar um hor\u00e1rio que n\u00e3o tinha muito tr\u00e1fego na estrada pois iria percorrer uns setenta quil\u00f4metros na BR 101 at\u00e9 sair para Linha Verde. A estrada estava toda boa em todos os trechos que peguei de BR, fato esse que se confirmaria na viagem de volta. Nenhum buraco. Apenas alguns que encontrei na parte mais chata da viagem que \u00e9 no entroncamento de Recife para Jo\u00e3o Pessoa antes de sair para Abreu e Lima. A litor\u00e2nea \u00e9 perfeita e linda. \u00a0\u00a0\"\"\"\"Entrei na Linha Verde e vi a placa \u201cBem-Vindo \u00e0 Bahia\u201d. J\u00e1 fui muitas vezes \u00e0 Terra de Todos os Santos a trabalho e a passeio e n\u00e3o me canso de dizer que l\u00e1 se somam todas as diferen\u00e7as que em outros lugares produziriam a intoler\u00e2ncia e o preconceito. Mas na Bahia o profano e o sagrado s\u00e3o vizinhos, se cruzam e festejam juntos numa das maiores li\u00e7\u00f5es de toler\u00e2ncia que j\u00e1 vi na vida. N\u00e3o \u00e9 a toa que o carnaval de Salvador \u00e9 a maior festa popular do mundo, registrada no Guiness Book. Cerca de tr\u00eas milh\u00f5es de pessoas em alguns quil\u00f4metros quadrados, uma m\u00e9dia de 3 pessoas por metro quadrado, mais de setenta trios de todas as tribos, dois circuitos e uma disposi\u00e7\u00e3o enorme para a festa. O com\u00e9rcio no carnaval se transforma. Lojas de roupa, cursos de ingl\u00eas, sorveterias… tudo vira bar e camarote por onde passam os trios. Sejam pelo circuito Barra-Ondina ou pelo circuito Campo Grande tudo vira bar e camarote. Patrim\u00f4nios hist\u00f3ricos protegidos por tapumes e cercas. Tudo alegria, organizado e muito profissional. Um grande neg\u00f3cio sob todos os aspectos e na Bahia, pasmem voc\u00eas, eu vi e pude atestar, o carnaval \u00e9 levado muito \u00e0 s\u00e9rio. Quem pensa que aquela festa toda \u00e9 uma jun\u00e7\u00e3o de todas as irresponsabilidades e descuidos vai queimar a l\u00edngua. Baiano gosta sim de trabalhar e de muito trabalho pois organizar a maior festa de rua do mundo d\u00e1, sim, muito trabalho. Tudo muito organizado, bem policiado. Digo isso por que tive a oportunidade de conhecer atrav\u00e9s de meu irm\u00e3o Jorge Mesquita e sua guerreira esposa Selma e de Telminha a festa de rua mais organizada que eu pude participar. Acompanhei o carnaval de v\u00e1rios \u00e2ngulos e aspectos. Estive de passagem na pipoca do Chiclete com Banana. Gente… e ainda dizem que ir de Fortaleza a Savador sozinho numa moto \u00e9 perigoso. Perigoso \u00e9 encarar os manos da pipoca do Chiclete com Banana. Isso sim! Fiz algumas fotos de lugares que particularmente amo em Salvador. Tive que esperar a chuva dar uma tr\u00e9gua, o que levou uns tr\u00eas dias e meio para acontecer. Em Salvador conheci Dona Neuza, motociclista de esp\u00edrito, uma figura rara em bom humor e uma m\u00e3o santa para tempero. Caruru? \u00c9 com ela mesma! Tamb\u00e9m tive a oportunidade de me divertir jogando videogame com a turminha do Jorge: Robertinha, Lalis, Binho e Gabriel mais conhecido como\u00a0Arquejandomen<\/em> por ter um sono de dar inveja a qualquer insone. Tamb\u00e9m tive o prazer de conhecer o jovem Igor. Menino maduro para sua idade, inteligente de quem ganhei uma lembran\u00e7a e a quem presenteei com meu bracelete de roqueiro.<\/p>\n

\"\"\"\"Voltemos a Linha Verde. Essa estrada \u00e9 tudo que um bom motorista pede. Quase sempre reta, linda, pouco vento lateral e um tapete. Na estrada vinha fazendo m\u00e9dia puxando um pouco mais pois dava para andar mais r\u00e1pido. Na ida tirei de Aracaju a Salvador em quatro horas, mas na volta baixei para tr\u00eas horas e um minuto.\u00a0\"\"No caminho me assustei com a falta de posto nas estrada. N\u00e3o sabia que s\u00f3 iria encontrar um a oitenta e oito quil\u00f4metros de Salvador. O ponteiro da gasolina baixou muito e tive que refazer meus c\u00e1lculos de cabe\u00e7a para n\u00e3o correr o risco de uma pane seca. C\u00e1lculo vai e c\u00e1lculo vem e a gasolina baixando. Me lembrei na minha agonia por baixo do capacete que n\u00e3o existem postos distantes do outro no Nordeste mais que oitenta quil\u00f4metros. Refiz as contas para saber onde errei, mas estava certo. O \u00faltimo posto que passei e n\u00e3o abasteci ficou\u00a0 a cinquenta quil\u00f4metros atr\u00e1s. Assim, mais uns vinte\u00a0 e cinco ou trinta quil\u00f4metros \u00e0 frente eu encontraria um ou uma patrulha rodovi\u00e1ria. Sobe e desce morro, passa curva e nada de posto e nem de pol\u00edcia. Reduzi a velocidade para aumentar a autonomia. Embaixo do capacete, dentro da minha agonia, acreditava que n\u00e3o errara e refiz as contas e confirmei que acabaria a gasolina a cerca de 40 quil\u00f4metros de Salvador. At\u00e9 l\u00e1 iria fazer minha parte: reduzir a velocidade e esperar andando.<\/p>\n

\"\"Alguns minutos depois uma patrulha. Parei e bati com a m\u00e3o na lateral do tanque. O policial me pergunta se j\u00e1 estava na reserva. Respondi que n\u00e3o. Ele apontou pra estrada e disse aquilo que esperei por quil\u00f4metros para ouvir: Gasolina a doze quil\u00f4metros. ISSO! Gritei embaixo do capacete. N\u00e3o havia errado. Mais um pouco \u00e0 frente e chego ao posto. Parei por uma meia-hora para descanso e hidrata\u00e7\u00e3o. Neste posto encontro um casal de argentinos descendo de volta para Buenos Aires e que tamb\u00e9m passou pelo mesmo susto. Na volta fui descobrir por que do susto. A placa que avisa que este \u00e9 o \u00faltimo posto at\u00e9 quase a divisa com Sergipe estava um quil\u00f4metro antes da entrada do posto e era no sentido contr\u00e1rio.<\/p>\n

Depois de ter descansado tirei pra Salvador e fui ao ponto de encontro combinado com meu irm\u00e3o Jorge. Cheguei. Desci da moto. Ainda estava com a adrenalina nas alturas. Descansei em p\u00e9 e mandei a mensagem para todos que havia chegado. Imediatamente recebo uma resposta: era Sara, minha assistente que ficou no meu lugar segurando os pepinos do setor enquanto eu tirava f\u00e9rias. A mensagem dizia \u2013 Parab\u00e9ns! Miss\u00e3o cumprida!. Ai eu cai na real do que tinha feito. Pior: eu teria que voltar para contar a hist\u00f3ria mas n\u00e3o sem antes ouvir uns belos car\u00f5es da m\u00e3e do meu irm\u00e3o Jorge e da dona Neuza m\u00e3e de Selma pela aventura. Agradeci pelas ora\u00e7\u00f5es, ajudaram muito. Foram fundamentais.<\/p>\n

\"\"\"\"Voltar com cuidado pra contar a hist\u00f3ria. Foi isso que eu fiz na volta. Vim pela BR o tempo todo, na ponta dos dedos, com triplo cuidado, tirando nota dez em todos os trechos e etapas para poder chegar e contar esta hist\u00f3ria. Na volta meus amigos motociclistas do motoclube Guerreiros do Sol, do qual fa\u00e7o parte, Ivan, Danilo, Waldemar e Gomes me deram os parab\u00e9ns e logo foi marcada um reuni\u00e3o para contar detalhes. Mas foi muita coisa e ai decidi escrever. Amadureci muito no meu hobby. Cresci como piloto e pude atestar que planejar 80% e executar em 205 do tempo \u00e9 sim um receita de oriental para ocidentais aprenderem. Eu aprendi e voltei para contar como foi.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Neste \u00faltimo ponto repousa o mais importante. Decidi pela rota Fortaleza \u2013 Salvador por ser uma rota com altern\u00e2ncia de trechos longos e curtos, com estradas movimentadas e trechos desertos, bons pontos de apoio e pontos sem apoio nenhum, segura em alguns trecos e hor\u00e1rios e insegura quanto a assaltos em outros trechos e anda por ser um desafio de m\u00e9dio porte em se tratando de realiz\u00e1-la solitariamente numa moto de baixa cilindrada. <\/p>\n","protected":false},"author":22,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"site-sidebar-layout":"default","site-content-layout":"default","ast-global-header-display":"","ast-main-header-display":"","ast-hfb-above-header-display":"","ast-hfb-below-header-display":"","ast-hfb-mobile-header-display":"","site-post-title":"","ast-breadcrumbs-content":"","ast-featured-img":"","footer-sml-layout":"","theme-transparent-header-meta":"","adv-header-id-meta":"","stick-header-meta":"","header-above-stick-meta":"","header-main-stick-meta":"","header-below-stick-meta":"","footnotes":""},"categories":[14],"tags":[453,1476,454],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/www.luissucupira.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/209867"}],"collection":[{"href":"https:\/\/www.luissucupira.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/www.luissucupira.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.luissucupira.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/users\/22"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.luissucupira.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=209867"}],"version-history":[{"count":5,"href":"https:\/\/www.luissucupira.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/209867\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":209872,"href":"https:\/\/www.luissucupira.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/209867\/revisions\/209872"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/www.luissucupira.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=209867"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.luissucupira.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=209867"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.luissucupira.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=209867"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}