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{"id":211245,"date":"2011-02-01T20:33:09","date_gmt":"2011-02-01T22:33:09","guid":{"rendered":"http:\/\/www.luissucupira.com.br\/?p=211245"},"modified":"2011-02-04T16:45:24","modified_gmt":"2011-02-04T18:45:24","slug":"a-tunisia-era-uma-ditadura-por-igor-fuser","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.luissucupira.com.br\/a-tunisia-era-uma-ditadura-por-igor-fuser\/","title":{"rendered":"A Tun\u00edsia era uma ditadura! Por Igor Fuser*"},"content":{"rendered":"

A Tun\u00edsia era uma ditadura!<\/h2>\n

Por Igor Fuser*<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

A m\u00eddia silenciou sobre o despotismo na Tun\u00edsia porque se tratava de um regime servil aos interesses pol\u00edticos e econ\u00f4micos dos EUA.<\/p>\n

Quando eu ingressei como redator na editoria de assuntos internacionais da Folha de S.Paulo, um colega veterano me ensinou como se fazia para definir quais, entre as centenas de not\u00edcias que receb\u00edamos diariamente, seriam merecedoras de destaque no jornal do dia seguinte. “\u00c9 s\u00f3 olhar os telegramas das ag\u00eancias e ver o que elas acham mais importante”, sentenciou. Pragm\u00e1tico, ele adotava esse m\u00e9todo como um meio seguro de evitar que o notici\u00e1rio da Folha destoasse dos jornais concorrentes, os quais, por sua vez, se comportavam do mesmo modo. Na realidade, portanto, quem pautava a cobertura internacional da imprensa brasileira era um restrito grupo de tr\u00eas ag\u00eancia noticiosas – Reuters, Associated Press e United Press International, todas afinad\u00edssimas com as prioridades geopol\u00edticas dos Estados Unidos.<\/p>\n

Passadas mais de duas d\u00e9cadas, a cobertura internacional da m\u00eddia brasileira ainda se orienta por diretrizes estrangeiras. A \u00fanica diferen\u00e7a \u00e9 que agora as ag\u00eancias enfrentam a competi\u00e7\u00e3o de outros fornecedores de informa\u00e7\u00e3o, como a CNN e os servi\u00e7os de empresas como a BBC e o New York Times, oferecidos pela internet. Mas o conte\u00fado \u00e9 o mesmo.<\/p>\n

Quem confia nessa agenda est\u00e1 condenado a uma vis\u00e3o parcial e distorcida, uma ignor\u00e2ncia que s\u00f3 se revela quando ocorrem “surpresas” como a rebeli\u00e3o popular que derrubou o governo da Tun\u00edsia. De repente, o mundo tomou conhecimento de que a Tun\u00edsia – um pa\u00eds totalmente integrado \u00e0 ordem neoliberal e um dos destinos favoritos dos turistas europeus – era governada h\u00e1 23 anos por um ditador corrupto, odiado pelo seu povo. Como \u00e9 que ningu\u00e9m sabia disso?<\/p>\n

A m\u00eddia silenciou sobre o despotismo na Tun\u00edsia porque se tratava de um regime servil aos interesses pol\u00edticos e econ\u00f4micos dos EUA. O ditador Ben Ali nunca foi repreendido por viola\u00e7\u00f5es aos direitos humanos e, mesmo quando ordenou que suas for\u00e7as repressivas abrissem fogo contra manifestantes desarmados, matando dezenas de jovens, o presidente estadunidense Barack Obama e sua secret\u00e1ria de Estado, Hillary Clinton, permaneceram em sil\u00eancio. N\u00e3o abriram a boca nem mesmo para tentar conter o massacre. S\u00f3 se manifestaram depois que Ben Ali fugiu do pa\u00eds, como um rato, carregando na bagagem mais de uma tonelada de ouro.<\/p>\n

O caso da Tun\u00edsia n\u00e3o \u00e9 o \u00fanico na regi\u00e3o. No vizinho Egito, outro regime vassalo dos EUA, Hosni Mubarak governa ditatorialmente desde 1981. Suas pris\u00f5es est\u00e3o lotadas de opositores pol\u00edticos e as elei\u00e7\u00f5es ocorrem em meio \u00e0 fraude e \u00e0 viol\u00eancia, o que garante ao governo quase todas as cadeiras parlamentares. Mas o que importa, para o “Ocidente”, \u00e9 o apoio da ditadura eg\u00edpcia \u00e0s posi\u00e7\u00f5es estadunidenses no Oriente M\u00e9dio, em especial sua coniv\u00eancia com o expansionismo israelense. Por isso, a aus\u00eancia de democracia em pa\u00edses como a Tun\u00edsia e o Egito nunca recebe a aten\u00e7\u00e3o da m\u00eddia convencional, ao contr\u00e1rio da condena\u00e7\u00e3o sistem\u00e1tica de regimes autorit\u00e1rios n\u00e3o-alinhados com os EUA, como o Ir\u00e3 e o Zimb\u00e1bue. \u00c9 sempre assim: dois pesos, duas medidas.
\n
\n*Igor Fuser<\/strong> \u00e9 jornalista, professor de jornalismo na Faculdade C\u00e1sper L\u00edbero.<\/em><\/p>\n

<\/em>**Publicado originalmente na edi\u00e7\u00e3o 412 do Brasil de Fato –\u00a0http:\/\/www.brasildefato.com.br\/<\/a>.<\/em>
\n(Envolverde\/Brasil de Fato)<\/p>\n\n\n\n
\u00a9<\/span> Copyleft<\/strong> – \u00c9 livre a reprodu\u00e7\u00e3o\u00a0exclusivamente<\/span> para fins n\u00e3o comerciais, desde que o autor e a fonte sejam citados e esta nota seja inclu\u00edda.<\/td>\n<\/tr>\n<\/tbody>\n<\/table>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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