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{"id":211884,"date":"2011-02-23T17:57:33","date_gmt":"2011-02-23T20:57:33","guid":{"rendered":"http:\/\/www.luissucupira.com.br\/?p=211884"},"modified":"2011-02-23T17:57:33","modified_gmt":"2011-02-23T20:57:33","slug":"tragedia-silenciosa-relatos-apavorantes-de-uma-epidemia-de-dengue-que-esta-arrasando-bom-jesus-do-itabapoana-rj","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.luissucupira.com.br\/tragedia-silenciosa-relatos-apavorantes-de-uma-epidemia-de-dengue-que-esta-arrasando-bom-jesus-do-itabapoana-rj\/","title":{"rendered":"Trag\u00e9dia silenciosa: Relatos apavorantes de uma epidemia de dengue que est\u00e1 arrasando Bom Jesus do Itabapoana, RJ"},"content":{"rendered":"

Por Elis Monteiro *jornalista e Bonjesuense<\/h2>\n
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Elis Monteiro<\/figcaption><\/figure>\n

H\u00e1 acontecimentos, trag\u00e9dias como a da Regi\u00e3o Serrana que, pelas suas dimens\u00f5es, acabam mobilizando milhares de pessoas em torno de uma (boa) causa \u2013 ajudar os necessitados, salvar vidas, aliviar a dor de quem ficou. A internet j\u00e1 mostrou seu potencial para denunciar governos, expor mazelas acobertadas por bandeiras ideol\u00f3gicas e unir pessoas em prol de um ideal. Mas h\u00e1 trag\u00e9dias sorrateiras, que n\u00e3o ganham as manchetes dos jornais, que v\u00e3o matando aos poucos e, quando a popula\u00e7\u00e3o se d\u00e1 conta…centenas de mortos, um rastro de tristeza e fam\u00edlias inteiras \u00e0 beira do colapso.<\/p>\n

Uma dessas trag\u00e9dias silenciosas est\u00e1 acontecendo em Bom Jesus do Itabapoana, pequena cidade ao norte do Estado do Rio de Janeiro. N\u00e3o se trata de uma tromba d\u2019\u00e1gua, tsunami nem uma enchente de grandes propor\u00e7\u00f5es, mas um mosquito que, h\u00e1 tempos, vem desafiando m\u00e9dicos e especialistas. Bom Jesus est\u00e1 sofrendo com a dengue. Dezenas de mortos, dentre eles crian\u00e7as e adolescentes, que n\u00e3o viram estat\u00edstica porque a voz dos sofridos n\u00e3o alcan\u00e7a os megafones p\u00fablicos.<\/p>\n

O hospital da cidade est\u00e1 \u00e0 beira do colapso, na imin\u00eancia de fechar as portas; m\u00e9dicos ficam sem dormir tentando salvar vidas; casos \u201cmenos graves\u201d t\u00eam sido rejeitados, por absoluta falta de estrutura e\/ou ajuda do poder p\u00fablico. \u00c9 como se toda uma popula\u00e7\u00e3o fosse sendo esquecida aos poucos, abandonada pela sua pequenez. Como se a vida de uma crian\u00e7a ou de um senhor de 80 anos, cheio de vitalidade e sa\u00fade, que sucumbe \u00e0 dengue hemorr\u00e1gica, n\u00e3o fossem importantes para o resto da sociedade.<\/p>\n

Os relatos s\u00e3o apavorantes \u2013 m\u00e3es que escondem os filhos dentro de casa por medo de os perderem. Filhos que v\u00eaem os pais padecerem, sangrando pelos poros, largados em macas no meio dos corredores do hospital. Sangue, tristeza, desespero, esquecimento.<\/p>\n

A prefeitura, dizem os m\u00e9dicos, s\u00f3 se mexeu para mandar circular carros jogando fuma\u00e7a de diesel queimado \u2013 n\u00e3o h\u00e1 verba para o tal fumac\u00ea.<\/p>\n

Nem vontade pol\u00edtica. Porque a tal doen\u00e7a s\u00f3 pode ser comprovada quase um m\u00eas depois de feito o exame. Um m\u00eas depois do enterro, porque as vidas est\u00e3o escorregando entre os dedos dos m\u00e9dicos. Infectologistas, cirurgi\u00f5es, todas as especialidades se misturam numa for\u00e7a-tarefa para salvar alguns \u2013 porque salvar todos \u00e9 imposs\u00edvel. Segundo relatos de especialistas da cidade, quase 50% da popula\u00e7\u00e3o \u2013 de 30 mil habitantes \u2013 est\u00e1 com dengue ou com sintomas de. E nada. A grande m\u00eddia n\u00e3o se manifesta. N\u00e3o h\u00e1 movimentos nas redes sociais. N\u00e3o h\u00e1 um chamariz porque a dengue n\u00e3o \u00e9 sedutora. \u00c9 feia. \u00c9 suja. \u00c9 pobre. \u00c9 culpa de quem n\u00e3o fez a sua parte, cobrindo piscinas ou jogando fora \u00e1gua parada.<\/p>\n

Neste caso, no entanto, culpar algu\u00e9m n\u00e3o adianta. \u00c9 preciso fazer alguma coisa, mesmo que seja gritar. Em nome do pobre doutor Luciano, diretor da mais conceituada escola da cidade, que dedicou sua vida \u2013 saud\u00e1vel e vibrante – a ensinar e que acabou falecendo, perdendo a vida para a mais besta das doen\u00e7as, culpa de um mosquitinho de nada. Assim como ele, v\u00edtimas pobres, moradoras de bairros menos favorecidos, v\u00e3o se juntando a uma lista indigente, de pessoas que…ora, s\u00f3 estavam no lugar errado na hora errada! Afinal, quem pode controlar o\u00a0bater de asas de um mosquito irreverente que j\u00e1 virou fantasia de carnaval?<\/p>\n

A exist\u00eancia da dengue \u2013 e de sua vers\u00e3o mais agressiva, a hemorr\u00e1gica – n\u00e3o \u00e9 novidade para ningu\u00e9m. N\u00e3o vende jornal, n\u00e3o vira manchete.<\/p>\n

N\u00e3o \u00e9 chamariz de palanque, n\u00e3o merece \u201ctrendar\u201d. Enquanto isso, a adolescente agoniza no leito do hospital, com m\u00e9dicos correndo como loucos, tentando salvar aqueles que o estado j\u00e1 desistiu de ajudar. Pior: nem tentou.<\/p>\n

Por que n\u00e3o gritar? Nenhuma vida \u00e9 menos importante que a outra apenas porque est\u00e1 longe das vistas do morador das grandes cidades. E os Bonjesuenes ausentes, como eu, choram pela morte dos seus. Pedindo apenas um pouco de aten\u00e7\u00e3o. Tentando arrumar uma forma de tirar a fam\u00edlia da \u00e1rea de risco. Sim, Bom Jesus se tornou um grande vale de risco de morte.<\/p>\n

N\u00e3o pedimos queda de prefeito nem revolta contra governos. S\u00f3 pedimos o que \u00e9 nosso direito \u2013 n\u00e3o ver nossos queridos morrendo \u00e0 toa, sangrando pelos poros.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Os relatos s\u00e3o apavorantes \u2013 m\u00e3es que escondem os filhos dentro de casa por medo de os perderem. Filhos que v\u00eaem os pais padecerem, sangrando pelos poros, largados em macas no meio dos corredores do hospital. Sangue, tristeza, desespero, esquecimento.<\/p>\n","protected":false},"author":22,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"site-sidebar-layout":"default","site-content-layout":"default","ast-global-header-display":"","ast-main-header-display":"","ast-hfb-above-header-display":"","ast-hfb-below-header-display":"","ast-hfb-mobile-header-display":"","site-post-title":"","ast-breadcrumbs-content":"","ast-featured-img":"","footer-sml-layout":"","theme-transparent-header-meta":"","adv-header-id-meta":"","stick-header-meta":"","header-above-stick-meta":"","header-main-stick-meta":"","header-below-stick-meta":"","footnotes":""},"categories":[10],"tags":[1470,1471],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/www.luissucupira.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/211884"}],"collection":[{"href":"https:\/\/www.luissucupira.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/www.luissucupira.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.luissucupira.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/users\/22"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.luissucupira.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=211884"}],"version-history":[{"count":2,"href":"https:\/\/www.luissucupira.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/211884\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":211886,"href":"https:\/\/www.luissucupira.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/211884\/revisions\/211886"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/www.luissucupira.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=211884"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.luissucupira.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=211884"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.luissucupira.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=211884"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}