Por Reinaldo Canto*<\/td>\n<\/tr>\n<\/tbody>\n<\/table>\n![\"\"](\"http:\/\/www.envolverde.com.br\/fotos_novas\/87807.jpg\") Segundo o Detran, a cidade vai atingir essa impressionante marca at\u00e9 o fim de mar\u00e7o. Mas afinal, tal fato \u00e9 digno de j\u00fabilo ou de pesar?<\/p>\n A resposta para o questionamento acima mencionado ir\u00e1 depender, obviamente, do ponto de vista e dos valores do observador.<\/p>\n Para os adeptos da velha economia e amantes do transporte individual a not\u00edcia poder\u00e1 ser motivo de comemora\u00e7\u00f5es. Esses h\u00e3o de considerar que o expressivo n\u00famero significa que S\u00e3o Paulo transformou-se numa metr\u00f3pole digna do primeiro mundo, com uma economia pujante e pr\u00f3spera, na qual cada vez mais pessoas podem satisfazer seus desejos de consumo. \u00a0<\/p>\n J\u00e1 para aqueles que compartilham os valores do desenvolvimento sustent\u00e1vel e da melhoria da qualidade de vida, a informa\u00e7\u00e3o causa, no m\u00ednimo, um certo des\u00e2nimo. Simboliza uma vit\u00f3ria do retrocesso e do passado em detrimento da constru\u00e7\u00e3o de uma cidade mais equilibrada e amig\u00e1vel para se viver.<\/p>\n N\u00fameros n\u00e3o mentem<\/strong><\/p>\n Algumas informa\u00e7\u00f5es adicionais s\u00e3o importantes para que os indecisos possam fazer suas escolhas. Segundo mat\u00e9ria publicada pelo caderno Metr\u00f3pole do jornal O Estado de S\u00e3o Paulo baseada em dados fornecidos pelo Detran, em 1970, a capital paulista tinha registrados 965 mil ve\u00edculos para 14 mil quil\u00f4metros de vias. J\u00e1 para os 7 milh\u00f5es de ve\u00edculos existem hoje na cidade, 17 mil quil\u00f4metros de ruas e avenidas pavimentadas.\u00a0 N\u00e3o \u00e9 por outra raz\u00e3o que os congestionamentos por estas bandas s\u00e3o cada vez mais freq\u00fcentes.<\/p>\n Espanta tamb\u00e9m o fato da frota de ve\u00edculos crescer seis vezes mais r\u00e1pido que a popula\u00e7\u00e3o de S\u00e3o Paulo. J\u00e1 temos mais ve\u00edculos por habitante (630 para cada mil paulistanos) do que Jap\u00e3o (395), Estados Unidos (478) e It\u00e1lia (539 ve\u00edculos para cada mil italianos).<\/p>\n Direito fundamental<\/strong><\/p>\n Contribui de maneira decisiva para esse crescimento descomunal um fator cultural bastante disseminado em nosso pa\u00eds: o sonho de possuir um carro pr\u00f3prio.<\/p>\n Ou\u00e7o com insist\u00eancia que o estabelecimento de medidas de cerceamento a venda de ve\u00edculos, seria uma indesculp\u00e1vel discrimina\u00e7\u00e3o com as classes C e D que, gra\u00e7as \u00e0s facilidades do cr\u00e9dito, finalmente podem adquirir carros com presta\u00e7\u00f5es que caibam nos seus bolsos.<\/p>\n Segundo essa l\u00f3gica ser propriet\u00e1rio de um ve\u00edculo de passeio seria um direito inalien\u00e1vel tanto quanto os direitos a sa\u00fade, alimenta\u00e7\u00e3o, moradia e educa\u00e7\u00e3o. Mas \u00e9 preciso, antes de mais nada, levar em conta as necessidades da sociedade como um todo. A\u00ed sim, um dos principais direitos fundamentais fica enormemente prejudicado com o entupimento das nossas vias por esses ve\u00edculos de passeio, ou seja, o direito de ir e vir. E pelo que podemos assistir, antes de melhorar, essa situa\u00e7\u00e3o deve piorar ainda mais. A marca de 7 milh\u00f5es de ve\u00edculos em breve ser\u00e1 superada, pois as vendas continuam a crescer de maneira acelerada e constante. Portanto, devemos esperar congestionamentos cada vez maiores, pessoas estressadas e tamb\u00e9m o aumento dos casos de doen\u00e7as provocadas pela polui\u00e7\u00e3o que j\u00e1 matam cerca de 20 pessoas todos os dias na regi\u00e3o metropolitana, segundo o Laborat\u00f3rio de Polui\u00e7\u00e3o Atmosf\u00e9rica da Faculdade de Medicina da Universidade de S\u00e3o Paulo.<\/p>\n Al\u00e9m de entupir as ruas de nossas cidades e ampliar os n\u00edveis de polui\u00e7\u00e3o do ar, a cadeia de produ\u00e7\u00e3o da ind\u00fastria automobil\u00edstica \u00e9 intensiva em uso de energia, \u00e1gua e mat\u00e9rias-primas extra\u00eddas sem pudor nem d\u00f3 da natureza. Isso significa que, do ponto de vista do planeta, essa atividade \u00e9 totalmente insustent\u00e1vel e, portanto, sem futuro, seja pelo bem ou pelo mal. Possuir um carro, n\u00e3o faz uma pessoa melhor que fique isso bem claro! Conclus\u00f5es no sentido oposto tamb\u00e9m devem ser evitadas, a aus\u00eancia de um carro na garagem n\u00e3o \u00e9 um inequ\u00edvoco sinal de fracasso.<\/p>\n Outro ponto a se levar em conta \u00e9 a busca pela conviv\u00eancia harm\u00f4nica entre os habitantes da capital. A preval\u00eancia do individual sobre o coletivo \u00e9 um dos fatores que faz de S\u00e3o Paulo uma cidade dif\u00edcil de viver. Uma cidade deve ser de todas as pessoas que nela residem ou transitam. Ruas, avenidas, cal\u00e7adas, pontes e viadutos deveriam ser locais mais agrad\u00e1veis para o deslocamento cotidiano e n\u00e3o de disputa insana pela ocupa\u00e7\u00e3o de pequenos espa\u00e7os a qualquer custo.<\/p>\n Caminhos para mudar essa realidade existem e s\u00e3o at\u00e9 mais simples do que parecem. No campo individual, por exemplo, mesmo que voc\u00ea ame seu carro, evite o seu uso em toda e qualquer circunst\u00e2ncia sempre que poss\u00edvel. Voc\u00ea ver\u00e1 que andar a p\u00e9, de bicicleta ou de transporte coletivo pode ser bem interessante e agrad\u00e1vel.<\/p>\n Por outro lado, \u00e9 preciso tamb\u00e9m exigir que as nossas autoridades p\u00fablicas fa\u00e7am pesados investimentos em transportes coletivos e deixem de gastar dinheiro do or\u00e7amento com obras vi\u00e1rias. Quase sempre s\u00e3o obras muito caras que privilegiam e incentivam o uso de carros de passeio. Campanhas e fiscaliza\u00e7\u00e3o maci\u00e7as para quest\u00f5es como respeito a faixa de pedestres, reforma de cal\u00e7adas e garantia de acessibilidade v\u00e3o contribuir para uma gradual e ben\u00e9fica transforma\u00e7\u00e3o em prol de uma metr\u00f3pole mais sustent\u00e1vel e feliz.<\/p>\n *Reinaldo Canto<\/strong> \u00e9 jornalista, consultor e palestrante. Foi diretor de comunica\u00e7\u00e3o do Greenpeace e coordenador de comunica\u00e7\u00e3o do Instituto Akatu. \u00c9 colunista de Carta Capital e colaborador da Envolverde.<\/em><\/p>\n **Artigo publicado originalmente na coluna Cidadania & Sustentabilidade:http:\/\/www.cartacapital.com.br\/destaques_carta_capital\/parabens-sao-paulo-7-milhoes-de-carros<\/a><\/em><\/p>\n |