Warning: Constant WP_DEBUG already defined in /home/sucupira/public_html/wp-config.php on line 248

Warning: Cannot modify header information - headers already sent by (output started at /home/sucupira/public_html/wp-config.php:248) in /home/sucupira/public_html/wp-includes/rest-api/class-wp-rest-server.php on line 1831

Warning: Cannot modify header information - headers already sent by (output started at /home/sucupira/public_html/wp-config.php:248) in /home/sucupira/public_html/wp-includes/rest-api/class-wp-rest-server.php on line 1831

Warning: Cannot modify header information - headers already sent by (output started at /home/sucupira/public_html/wp-config.php:248) in /home/sucupira/public_html/wp-includes/rest-api/class-wp-rest-server.php on line 1831

Warning: Cannot modify header information - headers already sent by (output started at /home/sucupira/public_html/wp-config.php:248) in /home/sucupira/public_html/wp-includes/rest-api/class-wp-rest-server.php on line 1831

Warning: Cannot modify header information - headers already sent by (output started at /home/sucupira/public_html/wp-config.php:248) in /home/sucupira/public_html/wp-includes/rest-api/class-wp-rest-server.php on line 1831

Warning: Cannot modify header information - headers already sent by (output started at /home/sucupira/public_html/wp-config.php:248) in /home/sucupira/public_html/wp-includes/rest-api/class-wp-rest-server.php on line 1831

Warning: Cannot modify header information - headers already sent by (output started at /home/sucupira/public_html/wp-config.php:248) in /home/sucupira/public_html/wp-includes/rest-api/class-wp-rest-server.php on line 1831

Warning: Cannot modify header information - headers already sent by (output started at /home/sucupira/public_html/wp-config.php:248) in /home/sucupira/public_html/wp-includes/rest-api/class-wp-rest-server.php on line 1831
{"id":212415,"date":"2011-04-19T07:21:46","date_gmt":"2011-04-19T10:21:46","guid":{"rendered":"http:\/\/www.luissucupira.com.br\/?p=212415"},"modified":"2011-04-16T11:26:13","modified_gmt":"2011-04-16T14:26:13","slug":"motoclubes-os-rabos-de-burro-%e2%80%93-o-primeiro-motogrupo-do-ceara-completaria-55-anos","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.luissucupira.com.br\/motoclubes-os-rabos-de-burro-%e2%80%93-o-primeiro-motogrupo-do-ceara-completaria-55-anos\/","title":{"rendered":"Motoclubes: Os Rabos de Burro \u2013 o primeiro motogrupo do Cear\u00e1 completaria 55 anos."},"content":{"rendered":"
\"\"
<\/figcaption><\/figure>\n

O primeiro grupo de motociclistas a ficar famoso no Cear\u00e1 era formado por um mais bem comportado grupo de dissidentes dos famigerados \u2018Rabo de Burro\u2019 que eram desordeiros (filhinhos de papai) que andavam de carro na Fortaleza dos Anos 40\u2019 e infernizavam a vida de mocinhas inocentes da antiga Escola Normal.<\/p>\n

Na D\u00e9cada de 50, no P\u00f3s-Guerra alguns fortalezenses herdaram equipamentos de guerra que n\u00e3o seriam mais usados pelos americanos quando da \u00e9poca da base militar que estava instalada onde \u00e9 hoje a Base A\u00e9rea de Fortaleza. O lugar era chamado de Post Comand que, mais tarde, virou nome de um bairro em Fortaleza chamado PICI. Na realidade Pici \u00e9 a forma fon\u00e9tica de falar, em ingl\u00eas, as letras \u2018P\u2019 e \u2018C\u2019.<\/p>\n

No meio dessa sobra de materiais tinham algumas \u2018Harley\u2019 e os Jipes. Muitos garotos pegaram essas motos em prec\u00e1rio estado de conserva\u00e7\u00e3o e as recuperaram e, junto com as lambretas, nascia o primeiro grupo de motociclistas do Cear\u00e1, que tamb\u00e9m foi apelidado de Rabos de Burro, mesmo n\u00e3o sendo arruaceiros e nem infernizarem as mocinhas decentes. Na realidade o nome nem era esse. Em vez de rabo usavam um nome mais pejorativo, formado por duas letras, as quais n\u00e3o ouso redigir aqui.<\/p>\n

\"\"
Abrigo Central - Fortaleza Antiga<\/figcaption><\/figure>\n

Eles se encontravam no antigo Abrigo Central, que ficava onde hoje se est\u00e1 a Pra\u00e7a do Ferreira. Na realidade podemos tamb\u00e9m afirmar que o Abrigo Central teria sido o primeiro shopping center do Cear\u00e1.<\/p>\n

Segundo a jornalista e historiadora, Roberta Maia, dar um \u201cpulinho\u201d no Abrigo Central era quase sagrado para muitas pessoas que viveram em Fortaleza at\u00e9 o final da d\u00e9cada de 1960. Relembrar o \u201cVelho Abrigo\u201d, constru\u00eddo na administra\u00e7\u00e3o do prefeito Acr\u00edsio Moreira da Rocha, em 1949, para ser um ponto de \u00f4nibus, n\u00e3o \u00e9 muito esfor\u00e7o para quem passou ali muitos momentos da juventude.<\/p>\n

\"\"
Am\u00e9lia Earhart na Base A\u00e9rea de Fortaleza - Primeira mulher a tentar cruzar o pac\u00edfico de avi\u00e3o passou alguns dias em Fortaleza. Foto tirada dias antes de desaparecer no mar.<\/figcaption><\/figure>\n

Ir \u00e0quele espa\u00e7o incrustado na Pra\u00e7a do Ferreira era essencial para finalizar bem o dia, depois da jornada de trabalho. O Abrigo Central era o ponto de encontro. Se voc\u00ea queria encontrar um amigo, voc\u00ea podia ficar ali \u00e0 espera que aquele amigo tinha que passar. Mas, al\u00e9m disso, podia ainda namorar e concorrer aos sorteios de carro que aconteciam ali.<\/p>\n

O Abrigo tinha ainda casas de merenda, loja de discos, loja de selos, tabacarias, caf\u00e9s, confeitaria, engraxates. Para seu M\u00e1rio Cidrack Filho, 62, que, ainda crian\u00e7a, trabalhava com seu pai na confeitaria que levava o sobrenome da fam\u00edlia, o Abrigo \u201cera a refer\u00eancia\u201d. Ele explica que \u201cl\u00e1 dentro do Abrigo tinha de tudo\u201d.<\/p>\n

L\u00e1 tamb\u00e9m era poss\u00edvel encontrar outras del\u00edcias da culin\u00e1ria, como as vitaminas, sucos e sandu\u00edches. Abacatadas, sucos de caj\u00e1, graviola, tamarindo, eram pedidos durante todo o dia nas v\u00e1rias casas de merenda (lanchonetes, para os paulistas). Mas, para o acompanhamento nada melhor que um \u201ccai-duro\u201d ou um \u201cespera-me no c\u00e9u\u201d. Pois \u00e9, tinha at\u00e9 a famosa bananada do \u2018Ped\u00e3o da Bananada!\u2019<\/p>\n

Meu pai foi um Rabo de Burro!<\/strong><\/p>\n

\"\"
1 - Sr Rubens Sucupira 2 - Luis Sucupira<\/figcaption><\/figure>\n

Nesse lugar um grupo de jovens garotos, onde um deles viria a ser, alguns anos depois, o meu pai, juntavam-se com suas motos para organizar passeios. Esses passeios eram mais do que aventuras.<\/p>\n

Sente-se e imagine:<\/strong> Naquela \u00e9poca as motos eram todas importadas, n\u00e3o tinham nem de perto a tecnologia de hoje, bebiam horrores de gasolina e n\u00e3o tinham pe\u00e7as de reposi\u00e7\u00e3o. N\u00e3o se usava capacete, mas \u00f3culos de piloto de ca\u00e7a e um gorro de couro que tapava as orelhas e prendia-se ao pesco\u00e7o por uma cinta jugular.<\/p>\n

Consertar as motos n\u00e3o era motivo de tanto problema, o problema maior eram os pneus. Eles eram uma raridade absoluta e car\u00edssimos. Assim, na falta dos originais, as Harley e as Indian rodavam com pneus de fusca.<\/p>\n

N\u00e3o foi f\u00e1cil fazer seu Rubens Sucupira falar das suas perip\u00e9cias como um Rabo de Burro (o nome era dado a eles tamb\u00e9m por que alguns tinham cabelos grandes e compridos e se pareciam, quando amarrados, com rabos de burro). Ele, acredito, achava que aquilo n\u00e3o era um bom exemplo de hist\u00f3ria para contar aos filhos e netos, mas era hist\u00f3ria e hist\u00f3ria precisa ser contada.<\/p>\n

Um dia de tanto insistir, depois de umas vodkas caprichadas, seu Rubens abriu o bico e as hist\u00f3rias desceram \u00e0 mesa. Foram muitas e tantas que vou tentar resumir ao m\u00e1ximo para voc\u00eas. Meu pai est\u00e1 atualmente (em 2011) com 73 anos e posso afirmar sem medo que ele tem aproximadamente 55 anos de motociclismo.<\/p>\n

\"\"
O gorro de piloto com o \u00f3culos era o capacete da \u00e9poca<\/figcaption><\/figure>\n

Os passeios noturnos<\/strong><\/p>\n

De volta ao Abrigo Central a turma se juntava e combinava os passeios. O preferido era ir a Mossor\u00f3 no Rio Grande do Norte. Hoje ir a Mossor\u00f3 \u00e9 f\u00e1cil. As motos s\u00e3o r\u00e1pidas, confort\u00e1veis e o asfalto existe em todo trecho de 265 quil\u00f4metros que separam Fortaleza da Terra que botou Lampi\u00e3o para correr \u00e0 bala.<\/p>\n

Naquele tempo eles rodavam em estradas de ch\u00e3o e \u00e0 noite. Seu Rubens explica que \u201c\u00e0 noite era mais seguro, pois as motos se alinhavam em paralelo, todas com far\u00f3is acesos e, assim, iluminavam a estrada. \u00c0 noite era mais f\u00e1cil sermos vistos pelos caminh\u00f5es e era melhor de v\u00ea-los tamb\u00e9m. A poeira do dia era terr\u00edvel e cegava todo mundo.\u201d<\/p>\n

Gasolina nas costas e remendo de pneus a frio<\/strong><\/p>\n

\"\"
A moto da \u00e9poca para todas as estradas<\/figcaption><\/figure>\n

N\u00e3o existiam postos de combust\u00edvel e nem borracharia na beira da estrada e por isso era necess\u00e1rio levar gasolina de reserva e remendo a frio para pneus que furassem. A Harley consumia entre 8 km\/l e 10 km\/l, tinha marcha no tanque e avan\u00e7o manual. Segundo seu Rubens, \u201cera muito dif\u00edcil domar aquilo, mas era divertido.\u201d<\/p>\n

Rodavam a noite toda e ao chegar \u00e0 Mossor\u00f3 iam tomar banho e ver as \u2018meninas\u2019 na pra\u00e7a. \u201c\u00c9ramos 15 garotos de fam\u00edlias abastadas e conhecidas em Fortaleza, por isso n\u00e3o dava para fazer muita bagun\u00e7a.\u201d Destaca seu Rubens. Quem pensa que eles bebiam e pilotavam engana-se. Rodavam a base de gasolina e para os pilotos: \u00e1gua e bolachas. N\u00e3o havia garupas. Quando chegavam, depois do banho, iam \u00e0 pra\u00e7a e l\u00e1 o \u201cmel corria solto\u201d. A pousada ficava na pra\u00e7a e assim n\u00e3o precisavam usar as motos.<\/p>\n

O Predador e a freirinha<\/strong><\/p>\n

\"\"
A freirinha e o motociclista<\/figcaption><\/figure>\n

Durante anos andaram juntos e poucos acidentes ocorreram. Um deles aconteceu com um amigo deles, cujo nome ele pede que preserve. Esse amigo a quem vamos chamar de \u2018Predador\u2019 acidentou-se e ficou internado na Santa Casa de Miseric\u00f3rdia. Enquanto isso a moto dele era consertada. No dia marcado para a sua sa\u00edda o pessoal dos Rabos de Burro foi busc\u00e1-lo, mas ele j\u00e1 havia sa\u00eddo de l\u00e1 sem avisar a ningu\u00e9m. A turma saiu pela cidade a procur\u00e1-lo e soube que ele havia pegado uma moto emprestada de outro amigo e que fazia alguns dias que n\u00e3o o via e nem devolvia a moto.<\/p>\n

Ent\u00e3o voltaram e decidiram falar com a madre superiora e l\u00e1 ficaram sabendo que uma freirinha havia sumido do hospital. Resumo da \u00f3pera: a freira fugiu com o motociclista Predador e acabou casando com ele e viveram felizes para sempre. D\u00e1 um filme!<\/p>\n

Seu Rubens tamb\u00e9m n\u00e3o era da turma dos santos e gostava de fazer das suas tamb\u00e9m. Tinha uma lambreta e um jipe e com a lambreta andava pra cima e pra baixo com minha m\u00e3e. Quando ainda era solteiro tinha o h\u00e1bito de andar em p\u00e9, em cima da cela da moto. As meninas adoravam e os seus pais detestavam aqueles rebeldes sem causa, cabeludos, que gostavam de i\u00ea-i\u00ea-i\u00ea, de boemia e de muita festa.<\/p>\n

Pimenta no sal\u00e3o!<\/strong><\/p>\n

\"\"
Arde nos olhos....<\/figcaption><\/figure>\n

Falando em festa, eles tamb\u00e9m acabaram com algumas e n\u00e3o era brigando. Bastava um n\u00e3o ser convidado que ele e os outros aprontavam. Numa dessas festas, um debut de 15 anos, eles levaram pimenta malagueta braba, da pior que tinha e jogaram no sal\u00e3o. As pessoas come\u00e7aram a dan\u00e7ar e assim tamb\u00e9m a pisar as pimentas. N\u00e3o demorou para todo mundo ficar com os olhos ardendo. Paravam de dan\u00e7ar e a banda parava de tocar para que lavassem o piso que os Rabos de Burro tinham enchido de pimenta.<\/p>\n

Olhos no c\u00e9u!<\/strong><\/p>\n

O Abrigo Central acabou, foi destru\u00eddo para dar lugar a Pra\u00e7a do Ferreira onde fica a Coluna da Hora e anos depois os garotos viraram pais e av\u00f4s, mas nunca deixaram a paix\u00e3o pelas motos. Meu pai, o Sr Rubens, ainda brilha os olhos quando v\u00ea as motos passarem, mas n\u00e3o pode mais andar nelas.<\/p>\n

Durante anos a nossa casa esteve cheia de lambretas, vespas, piaggios, Harley e Indian. At\u00e9 uma Yamaha 125 dois tempos tinha l\u00e1, toda equipada com bauletos e r\u00e1dio PX. Nessa moto meu pai ajudou a fazer a escolta do Papa Jo\u00e3o Paulo II quando em visita \u00e0 Fortaleza. Depois ela foi aposentada e ele nunca mais andou de moto. Sr Rubens \u00e9 diab\u00e9tico e cuida-se de um C.A. de pr\u00f3stata, tudo controlado e confesso que a sa\u00fade dele \u00e9 melhor que a minha, segundo seus exames, mas j\u00e1 n\u00e3o d\u00e1 mais para ele.<\/p>\n

\"\"
"N\u00e3o \u00e9ramos garotos maus. Apenas quer\u00edamos nos divertir e andar de moto." Rubens Sucupira<\/figcaption><\/figure>\n

\u201cO tempo passou\u201d… Diz seu Rubens, com os olhos firmados no c\u00e9u como quem tenta enxergar as imagens de um passado l\u00fadico, inocente e rebelde. Mais um gole na vodka, uma pausa… E finaliza: \u201cN\u00f3s n\u00e3o \u00e9ramos garotos maus. S\u00f3 quer\u00edamos nos divertir e andar de moto.\u201d<\/p>\n

Hoje eu entendo o que era ser um motociclista de verdade. N\u00e3o reclamavam de nada. Segundo seu Rubens Sucupira \u201co motociclista \u00e9 imune ao tempo e ao clima, mas sempre \u00e9 abatido pela emo\u00e7\u00e3o toda vez que ouve o som daquele bicho que anda em duas rodas chamado motocicleta.\u201d Depois dessa afirma\u00e7\u00e3o fui eu que passei a olhar para o c\u00e9u tentando encontrar aquelas imagens vividas por ele. Quem sabe, l\u00e1 no fundo do meu cora\u00e7\u00e3o, eu n\u00e3o seria tamb\u00e9m um Rabo de Burro?<\/p>\n

\"\"
Glenn Miller<\/figcaption><\/figure>\n

Enquanto eu ficava abra\u00e7ado ao meu sil\u00eancio ele ligou o \u00f3rg\u00e3o Yamaha e tocou Glenn Miller.<\/p>\n

Para encerrar eu queria deixar esse v\u00eddeo que considero um resumo daquilo tudo que meu pai me disse. Valeu, seu Rubens! Obrigado, pai!<\/p>\n