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{"id":212470,"date":"2011-03-21T10:50:59","date_gmt":"2011-03-21T13:50:59","guid":{"rendered":"http:\/\/www.luissucupira.com.br\/?p=212470"},"modified":"2011-03-21T11:12:53","modified_gmt":"2011-03-21T14:12:53","slug":"santos-dumont-e-o-empinador-de-pipas","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.luissucupira.com.br\/santos-dumont-e-o-empinador-de-pipas\/","title":{"rendered":"Santos Dumont e o Empinador de Pipas"},"content":{"rendered":"
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Santos Dumont<\/figcaption><\/figure>\n

Na manh\u00e3 de 23 de julho Alberto Santos Dumont veio at\u00e9 \u00e0 praia do Guaruj\u00e1 em S\u00e3o Paulo para passear um pouco e ajuda um menino a soltar uma pipa de papel. Corrigiu o peso da cauda, endireitou uma cana da estrutura e a pipa subiu ao c\u00e9u. O menino pulou de alegria.<\/p>\n

Alguns dias atr\u00e1s, mais precisamente em 9 de Julho, estoura o movimento constitucionalista em S\u00e3o Paulo. Diversas for\u00e7as pol\u00edticas procuram restabelecer a normalidade democr\u00e1tica sufocada pela ditadura getulista. Santos Dumont fica entusiasmado. Ainda na praia do Guaruj\u00e1 a convalescer escreve um manifesto aos mineiros convidando-os a aliarem-se aos paulistas.<\/p>\n

Mas Get\u00falio Vargas vai estra\u00e7alhar o movimento.<\/p>\n

Enquanto sorri ao ver a pipa nos c\u00e9us, Dumont escuta um som familiar crescente e na linha do horizonte surge uma esquadrilha. S\u00e3o avi\u00f5es federais que ir\u00e3o bombardear um cruzador paulista ancorado em Santos.<\/p>\n

Imediatamente o semblante de Santos Dumont muda, o sorriso desaparece e vem \u00e0 sua cabe\u00e7a o pensamento que iria piorar ainda mais a sua decep\u00e7\u00e3o com a humanidade \u2013 \u201cBrasileiros matam brasileiros servindo-se de uma m\u00e1quina que eu inventei!… Com tanto amor e ilus\u00e3o…\u201d.<\/p>\n

Triste vai pra casa e comete suic\u00eddio nessa noite.<\/p>\n

\u201cLan\u00e7ado de catapulta at\u00e9 pedra voa!\u201d<\/span><\/span><\/p>\n

Thomas Edison referia-se a Santos Dumont como o \u201cBandeirante dos Ares\u201d, nos bastidores comentava que n\u00e3o dava pra acreditar na hist\u00f3ria contada pelos irm\u00e3os Wright, pois pra Edison, at\u00e9 uma pedra jogada de uma catapulta voa e voar n\u00e3o era isso pra ele. Edison falava com a autoridade de quem fazia parte do Conselho de Guerra dos Estados Unidos. Mas essas opini\u00f5es nunca vieram a p\u00fablico oficialmente.<\/p>\n

Coincidentemente uma resposta do governo americano aos Wright mostra que essa opini\u00e3o de Edison tinha fundamento.<\/p>\n

Os experimentos dos Wright foram interrompidos de 1905 a 1908. Em 1905, os Wright escreveram uma carta ao Departamento de Guerra dos EUA, oferecendo sua inven\u00e7\u00e3o. Foram recusados, com a alega\u00e7\u00e3o de que o departamento n\u00e3o tomaria qualquer provid\u00eancia \u201cat\u00e9 que uma m\u00e1quina seja produzida com capacidade de produzir v\u00f4o horizontal e de conduzir um operador\u201d.<\/p>\n

N\u00e3o satisfeitos com a recusa, os irm\u00e3os Wright tentaram vender a inven\u00e7\u00e3o ao governo franc\u00eas, por meio do capit\u00e3o Ferber (intermedi\u00e1rio dos interesses dos Wright na Fran\u00e7a), como m\u00e1quina de guerra. O Minist\u00e9rio de Guerra franc\u00eas duvidou da conquista dos americanos: \u201ccomo um simples capit\u00e3o da artilharia pode saber de algo que os jornalistas americanos, os mais bem informados do mundo, ignoram?\u201d.<\/p>\n

Na \u00e9poca, ningu\u00e9m admitia que um fato t\u00e3o relevante como aquele pudesse ser ignorado pela imprensa americana, principalmente por ter acontecido nos EUA. Sinceramente, nem eu.<\/p>\n

O pr\u00f3prio Santos Dumont teria escrito indignado: \u201cN\u00e3o posso deixar de ficar profundamente espantado com esse fato inexplic\u00e1vel, \u00fanico, desconhecido: durante tr\u00eas anos e meio, os Wright realizaram in\u00fameros v\u00f4os mec\u00e2nicos e nenhum jornalista da t\u00e3o perspicaz imprensa dos Estados Unidos os testemunhou para aproveitar o assunto para a mais bela reportagem da \u00e9poca! Est\u00e1vamos em plena carreira de Gordon Bennet (dono do New York Herald), um dos mais importantes jornais norte-americanos. Tudo o que era novo, ele encorajava. Nas minhas oficinas, se encontrava, quase dia e noite, um dos seus rep\u00f3rteres. \u2018Estamos\u2019, dizia-me ele, \u2018num per\u00edodo \u00e1ureo da hist\u00f3ria do mundo. O p\u00fablico se interessa prodigiosamente pelos seus trabalhos\u2019. E estes eram quase quotidianamente relatados no jornal de Gordon Bennet. Como imaginar ent\u00e3o que, na mesma \u00e9poca, os irm\u00e3os Wright descrevem c\u00edrculos no ar durante horas, sem que ningu\u00e9m disso se ocupasse?\u201d.<\/p>\n

Infelizmente, boa parte do mundo considera os irm\u00e3os Wright como os primeiros a voar em um mais pesado que o ar, gra\u00e7as ao marketing americano. Nesse caso, gra\u00e7as a uma mentira absurda, tipo a que o Iraque tinha armas nucleares e qu\u00edmicas.<\/p>\n

Em 1908, dois anos ap\u00f3s os documentados v\u00f4os do 14 Bis, os irm\u00e3os Wilbour e Orville Wright visitaram a Fran\u00e7a e realizaram v\u00f4os em uma m\u00e1quina fabricada por eles \u2013 o Flyer. Nesses v\u00f4os, ainda precisavam de uma grande catapulta para lan\u00e7ar o avi\u00e3o no ar.<\/p>\n

\u00c0 \u00e9poca, os irm\u00e3os Wright aproveitaram para reivindicar o reconhecimento pelo primeiro v\u00f4o em um mais pesado que o ar. Eles afirmavam ter voado em novembro de 1903, mas n\u00e3o tinham como provar. Deram entrevistas sobre seus feitos, criando d\u00favida sobre o verdadeiro autor do primeiro v\u00f4o. O bi\u00f3grafo de Wilbour e Orville Wright e autor do primeiro livro sobre os irm\u00e3os americanos, John MacMahon, conta que no alegado v\u00f4o de 17 de dezembro de 1903 (que reivindicavam como sendo o primeiro da avia\u00e7\u00e3o), os americanos voaram quatro vezes na presen\u00e7a de cinco testemunhas, sendo tr\u00eas delas bombeiros, para qualquer eventualidade. O \u00fanico documento produzido durante a experi\u00eancia foi um telegrama que Orville enviou ao seu pai, relatando os v\u00f4os daquele dia. De acordo com o di\u00e1rio dos irm\u00e3os, eles teriam realizado diversos v\u00f4os, alguns deles testemunhados por pessoas locais. O intrigante \u00e9 que essas not\u00edcias n\u00e3o foram divulgadas e publicadas, nem nos Estados Unidos. Nenhum rep\u00f3rter, nenhuma foto. Nada!<\/p>\n

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Sempre evidenciou o seu orgulho de ser brasileiro.<\/figcaption><\/figure>\n

Alberto Santos Dumont (1873-1932) era descendente de imigrantes, como a maior parte do povo brasileiro. Era neto de franceses, por parte de pai, e bisneto de portugueses, por parte de m\u00e3e. Sempre evidenciou o seu orgulho de ser brasileiro.<\/p>\n


\nO filho do engenheiro Dumont<\/span><\/span><\/p>\n

No in\u00edcio dos anos oitenta do s\u00e9culo XIX, na R\u00fassia, o czar Alexandre II foi assassinado, sucedendo-lhe Alexandre III. O reino da S\u00e9rvia \u00e9 proclamado e a It\u00e1lia alia-se \u00e0 Alemanha e \u00e0 \u00c1ustria na Tr\u00edplice Alian\u00e7a. Marx morre. No Brasil, reina Pedro II e ainda ecoam os brados de vit\u00f3ria sobre o Paraguai, os republicanos conspiram e a aboli\u00e7\u00e3o da escravatura divide a sociedade brasileira. A estrada-de-ferro abre novas comunica\u00e7\u00f5es, as ind\u00fastrias surgem pelo pa\u00eds e come\u00e7am conflitos entre o Estado e a Igreja. Tudo isto interessa ao engenheiro Dumont, mas n\u00e3o o pequeno Dumont que brinca com os amigos o jogo das prendas. Em dado momento um deles pergunta: – Voa o gato? Todos gritam: – N\u00e3o! – Voa o urubu? Levantam os bra\u00e7os: Voa! Voa o carcar\u00e1? – Voa! – Voa o homem? Todos menos um gritam: – N\u00e3o! Alberto, um dos filhos do engenheiro, levanta os bra\u00e7os e grita: Voa! Risadas. Alberto tem de pagar uma prenda. Mas teima: – Um dia, o homem ir\u00e1 voar!<\/p>\n

Todo o tempo livre do ainda estudante Santos Dumont \u00e9 dedicado aos livros. ‘Cinco Semanas em Bal\u00e3o’, ‘Da Terra \u00e0 Lua’, ‘Vinte Mil L\u00e9guas Submarinas’ e a ‘Volta ao Mundo em Oitenta Dias’. Nas p\u00e1ginas de Verne, o homem j\u00e1 consegue voar at\u00e9 para fora do planeta. N\u00e3o faltar\u00e1 muito para que o homem voe tamb\u00e9m.<\/p>\n

Na fazenda, Alberto observa as m\u00e1quinas. Lembra-se das lendas de D\u00e9dalo, \u00cdcaro, Ariel e dos desenhos de Leonardo da Vinci sobre a estrutura das asas dos p\u00e1ssaros e da tentativa de Bartolomeu de Gusm\u00e3o que, em 1709, se eleva a 200 p\u00e9s de altura nos c\u00e9us de Lisboa, perante a corte de D. Jo\u00e3o V.<\/p>\n

O menino que gostava de empinar pipas.<\/span><\/span><\/p>\n

Uma das suas brincadeiras favoritas \u00e9 lan\u00e7ar papagaios e correr, segurando a corda, fazendo-os voar. Nas noites de S\u00e3o Jo\u00e3o, constr\u00f3i bal\u00f5es de papel. Em 1888, ano em que a escravatura \u00e9 abolida no Brasil, visita S\u00e3o Paulo. Numa feira assiste deslumbrado um homem voar: um acrobata estrangeiro que sobe num bal\u00e3o e depois salta de p\u00e1ra-quedas.<\/p>\n

O engenheiro Dumont cai do cavalo…<\/span><\/span><\/p>\n

Em 1891 o engenheiro Dumont cai do cavalo e perde o movimento das pernas. Vende a propriedade e volta \u00e0 Paris. A Cidade Luz o encanta. Visita a Exposi\u00e7\u00e3o do Pal\u00e1cio das Ind\u00fastrias e pela primeira vez est\u00e1 de frete a um motor de combust\u00e3o interna. Alberto compra um Peugeot e volta ao Brasil. O seu carro \u00e9 um dos primeiros autom\u00f3veis que chegam ao Brasil. Ele n\u00e3o liga pra excentricidades, para Santos Dumont \u00e9 no motor do carro, bem mais leve que o das locomotivas a vapor, que estar\u00e1 a solu\u00e7\u00e3o para o problema que finalmente permita ao homem voar. Certo das suas descobertas pede ao pai que o deixe voltar \u00e0 Fran\u00e7a. O engenheiro Dumont faz mais. Decide doar dois ter\u00e7os da sua fortuna aos filhos e concede a emancipa\u00e7\u00e3o jur\u00eddica a Alberto Santos Dumont antes mesmo de ele completar os dezoito anos.<\/p>\n

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Brasil<\/figcaption><\/figure>\n

Um bal\u00e3o chamado Brasil!<\/span><\/span><\/p>\n

Nessa \u00e9poca estuda e viaja com freq\u00fc\u00eancia. Muito atento \u00e0s novidades \u00e9 no Rio de Janeiro que recebe um livro onde o engenheiro Lachambre descreve um bal\u00e3o por si constru\u00eddo. Alberto volta a Paris e procura Lachambre. Este apresenta-lhe um pequeno bal\u00e3o que concebeu e pede-lhe 250 francos pelo passeio. Garante-lhe que n\u00e3o h\u00e1 perigo e isso deixa Santos Dumont confiante. Marca a subida para o dia seguinte. A vis\u00e3o de Paris do alto encanta e Dumont nuca mais seria o mesmo. Era isso que ele queria: voar!<\/p>\n

A partir desse momento ir\u00e1 dividir o seu tempo entre subidas em bal\u00e3o (em 1898 sobe mais de trinta vezes) e as corridas de autom\u00f3vel. Encomenda um bal\u00e3o a Lachambre inteiramente desenhado por ele mesmo. Tem seis metros de di\u00e2metro, inv\u00f3lucro em seda envernizada, capacidade para 113 metros c\u00fabicos de g\u00e1s, com 14 quilos de peso. A rede que nos bal\u00f5es convencionais que chegava a pesar 50 quilos, nesse pesa menos de dois. A barquinha que, normalmente, pesa 20 quilos, pesa seis. Cabe numa mala de viagem. Por aqui se v\u00ea que se trata de um bal\u00e3o revolucion\u00e1rio. Dumont chama-o de Brasil.<\/p>\n

Santos-Dumont torna-se famoso e \u00e9 tema de todas as conversas. Aquele brasileiro pequeno e franzino, com o seu chapeir\u00e3o (Panam\u00e1), voa sobre os c\u00e9us de Paris. A sua maneira de vestir transformam-se em moda e os pr\u00eamios que ele institui atraem multid\u00f5es.<\/p>\n

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OS dirig\u00edveis<\/figcaption><\/figure>\n

Bal\u00e3o a motor! Os dirig\u00edveis.<\/span><\/span><\/p>\n

Nessa \u00e9poca come\u00e7a a combina\u00e7\u00e3o bal\u00e3o-motor. Nasce assim o Santos-Dumont N.\u00ba1. Em Setembro de 1898 leva o seu bal\u00e3o para o Jardin de l’Acclimatation. O bal\u00e3o eleva-se, mas vai colidir com as \u00e1rvores do jardim. Mas ele n\u00e3o desiste e certa vez ainda, no norte de Fran\u00e7a, sobe ao entardecer e v\u00ea-se no meio de uma tempestade. A noite caiu e a escurid\u00e3o s\u00f3 \u00e9 interrompida pelos rel\u00e2mpagos. Se algum deles acerta o bal\u00e3o \u00e9 morte certa. Santos Dumont navega a noite toda na escurid\u00e3o sem saber pra onde est\u00e1 indo, levado em grande velocidade pela for\u00e7a do vento. De madrugada a tempestade passa e ele consegue pousar. Nessa hora descobre que est\u00e1 na B\u00e9lgica.<\/p>\n

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A volta na Torre Eiffel<\/figcaption><\/figure>\n

O desafio de \u2018la Meurthe\u2019.<\/span><\/span><\/p>\n

As aventuras e desventuras de Santos Dumont tornam-no uma figura conhecida em Paris. Mas ele n\u00e3o se deixa embriagar pelo sucesso.<\/p>\n

Um grupo de apaixonados pela avia\u00e7\u00e3o cria um Aeroclube em Paris e, numa das suas reuni\u00f5es, o Sr. Deutsch de la Meurthe, oferece um pr\u00eamio de 100 000 francos a quem for capaz de, dentro dos cinco anos, partir de Saint-Cloud, dar uma volta completa \u00e0 Torre Eiffel e voltar ao ponto de partida em menos de 30 minutos. O desafio tira o sono de Santos Dumont que constr\u00f3i v\u00e1rios bal\u00f5es. O Santos Dumont N.\u00ba4, esmaga-se contra as \u00e1rvores. Outro acidente destr\u00f3i o N.\u00ba5. Mas Alberto n\u00e3o desanima e come\u00e7a a construir o n.\u00ba 6. Em 12 de Outubro de 1901 sobe no n.\u00ba 6, d\u00e1 uma volta completa \u00e0 Torre Eiffel e regressa a Saint-Cloud. Demorou 31 minutos, um a mais do que o regulamento do pr\u00eamio estabelece como limite. O p\u00fablico aplaude e o j\u00fari hesita. O pr\u00eamio \u00e9 dado a ele, pois, embora ainda no ar, atravessou a linha de chegada no tempo. Santos-Dumont reparte o valor do pr\u00eamio entre seus t\u00e9cnicos e auxiliares e o restante \u00e9 doado a oper\u00e1rios desempregados.<\/p>\n

Santos Dumont \u00e9 homenageado em Londres num banquete do Royal Aero Club. O pr\u00edncipe do M\u00f4naco pede que construa um hangar e uma oficina no principado. Eug\u00eania de Montijo, a vi\u00fava de Napole\u00e3o III visita-o. O governo franc\u00eas contrata-o para construir o primeiro aer\u00f3dromo do mundo em Neuillly.<\/p>\n

Mas ele n\u00e3o p\u00e1ra. Concebe o Santos-Dumont N.\u00ba7 e, a seguir, o n.\u00ba 9 (pula o n\u00famero oito pois acredita trazer m\u00e1-sorte). Mas \u00e9 o N.\u00ba9, a Balladeuse que fica famoso. Esse \u00e9 o meio de transporte pessoal que Santos-Dumont usa para desloca-se por Paris. Nele visita amigos, vai a almo\u00e7os e a reuni\u00f5es. Torna-se familiar nos c\u00e9us de Paris e \u00e9 comum v\u00ea-lo pousar suavemente na rua e sair, impecavelmente vestido, entrar num bar e pedir um caf\u00e9.<\/p>\n

Santos-Dumont estimula outros aventureiros. Em 1909, Bl\u00e9riot atravessa o canal da mancha. Em todos os pa\u00edses civilizados come\u00e7am a construir f\u00e1bricas, hangares pistas. Iniciam-se as linhas postais e a de passageiros.<\/p>\n

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14 Bis<\/figcaption><\/figure>\n

O pai do v\u00f4o aut\u00f4nomo.<\/span><\/span><\/p>\n

A principal conquista de Santos Dumont foi ser o primeiro homem no mundo a voar em aparelho mais pesado que o ar utilizando unicamente os recursos do pr\u00f3prio aparelho.<\/p>\n

Foi o primeiro a construir e pilotar o avi\u00e3o que cumpriu todos os requisitos b\u00e1sicos de v\u00f4o usando apenas os meios de bordo: t\u00e1xi, decolagem, v\u00f4o nivelado e pouso. Al\u00e9m disso, foi o primeiro que demonstrou isso publicamente. Seu v\u00f4o pioneiro contou com a homologa\u00e7\u00e3o do \u00f3rg\u00e3o oficial de avia\u00e7\u00e3o da \u00e9poca, o L\u2019A\u00e9ro-Club de France.<\/p>\n

14Bis. Essa denomina\u00e7\u00e3o adveio do fato de Santos Dumont, inicialmente, ensaiar o novo aparelho acoplando-o ao seu bal\u00e3o-dirig\u00edvel N\u00ba. 14.<\/p>\n

O Pr\u00eamio Archdeacon, estabelecido em julho de 1906, estimulou os inventores do mundo para a realiza\u00e7\u00e3o do primeiro v\u00f4o aut\u00f4nomo de mais de 25 m com aparelho mais pesado que o ar.<\/p>\n

O 14Bis estava, inicialmente, equipado com um motor de apenas 24 Hp, a gasolina, tipo Antoinette, com 8 cilindros (4×4, em \u201cV\u201d), constru\u00eddo por Le\u00f3n Levavasseur. As asas eram formadas por seis \u201cc\u00e9lulas de Hargrave\u201d. Cada c\u00e9lula tinha a forma de cubo com duas faces vazadas. Os \u201clemes\u201d compunham uma \u201cc\u00e9lula de Hargrave\u201d. Todas as superf\u00edcies do 14-bis eram de seda japonesa; as arma\u00e7\u00f5es, de bambu e pinho; as jun\u00e7\u00f5es da estrutura e as h\u00e9lices, de alum\u00ednio; e os cabos-de-comando de a\u00e7o.<\/p>\n

A configura\u00e7\u00e3o usada por Santos Dumont no 14Bis, a qual veio a ser batizada em avia\u00e7\u00e3o como \u201ccanard\u201d (pato, em franc\u00eas), por apresentar os lemes na parte dianteira do avi\u00e3o. A configura\u00e7\u00e3o \u201ccanard\u201d n\u00e3o \u00e9 a melhor para a estabilidade e o controle de um aeroplano, sendo por isso menos usada posteriormente. Nos seus inventos seguintes, como os avi\u00f5es n\u00ba. 15 e Demoiselle, Santos Dumont n\u00e3o mais usou aquela configura\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

Ficha t\u00e9cnica do 14-Bis:<\/span><\/span><\/p>\n

\"Imagem\"<\/p>\n

Conquista do \u201cPr\u00eamio Archdeacon\u201d<\/span><\/span><\/p>\n

Em 23 de outubro de 1906 (16h45), ap\u00f3s corrida no solo de 200m, o 14-bis voou a dist\u00e2ncia de 60 m, \u00e0 altura de 2 a 3 m, em 7 segundos (s). Santos Dumont conquistou, com esse v\u00f4o, o pr\u00eamio estabelecido pelo capitalista franc\u00eas Ernest Archdeacon concedido ao \u201cprimeiro aviador que conseguisse voar dist\u00e2ncia de 25 m com \u00e2ngulo m\u00e1ximo de desnivelamento de 25 %\u201d.<\/p>\n

A not\u00edcia rapidamente espalhou-se e foi muito publicada nos jornais do planeta. O \u201cThe Illustrated London News\u201d, de Londres, em 03 de novembro de 1906, publicou: \u201cThe first flight of a machine heavier than air: Mr. Santos Dumont winning the Archdeacon Prize\u201d.<\/p>\n

Na mesma ocasi\u00e3o, o norte-americano Gordon Bennet, fundador e propriet\u00e1rio do famoso \u201cNew York Herald\u201d, escreveu no seu jornal sobre a fa\u00e7anha de Santos Dumont: “The first Human mechanical flight”.<\/p>\n

Assim tamb\u00e9m foram as manchetes de v\u00e1rios outros grandes jornais em todo o mundo.<\/p>\n

Al\u00e9m do Aeroclube da Fran\u00e7a,a Federa\u00e7\u00e3o Aeron\u00e1utica Internacional (FAI) noticiaram a conquista do pr\u00eamio, pois o 14-bis voara muito mais do que o limite m\u00ednimo de 25 m.<\/p>\n

A Conquista do Pr\u00eamio Aeroclube da Fran\u00e7a e do Primeiro Recorde Oficial de Avia\u00e7\u00e3o estavam mais que registrados. Sobre os irm\u00e3os Wright… Nada! Nenhuma linha.<\/p>\n

O Pr\u00eamio do Aeroclube da Fran\u00e7a, de 1500 francos, tamb\u00e9m estabelecido em julho de 1906, foi destinado ao primeiro homem no mundo que realizasse, com os pr\u00f3prios meios do aparelho, v\u00f4o de mais de 100 m de dist\u00e2ncia com \u00e2ngulo m\u00e1ximo de desnivelamento de 10 graus.<\/p>\n

Vinte dias ap\u00f3s o seu grande feito de 23 de outubro, Santos Dumont apareceu com o 14 bis aperfei\u00e7oado e trazendo uma novidade tecnol\u00f3gica: \u201cailerons\u201d, superf\u00edcies m\u00f3veis colocadas nas asas, uma em cada lado, para melhorar o controle lateral do avi\u00e3o.<\/p>\n

Nesse v\u00f4o, Santos Dumont decolou contra o vento. O 14-bis voou a uma dist\u00e2ncia de 220m, \u00e0 altura de 6m com dura\u00e7\u00e3o de 21 s e 1\/5 e velocidade m\u00e9dia de 37,4 km\/h.<\/p>\n

O v\u00f4o de 220 m do dia 12 de novembro foi homologado pela Federa\u00e7\u00e3o Aeron\u00e1utica Internacional (FAI) como o primeiro recorde mundial de avia\u00e7\u00e3o. Recorde de dist\u00e2ncia de v\u00f4o, sem escala, de aparelho mais pesado que o ar. A FAI tamb\u00e9m considera o pen\u00faltimo v\u00f4o do 14Bis, naquela data, como o primeiro recorde de velocidade: 41,292 km\/h.<\/p>\n

A revista norte-americana \u201cNational Aeronautics\u201d (n\u00ba 12, volume 17, de 1939), \u00f3rg\u00e3o oficial da \u201cNational Aeronautics Association\u201d sediada em Washington (EUA), tamb\u00e9m registrou o v\u00f4o de 220 m de Santos Dumont em 12 de novembro de 1906 como o primeiro recorde de avia\u00e7\u00e3o do mundo. A revista descreveu os posteriores recordes de dist\u00e2ncia de v\u00f4o.<\/p>\n

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Empinador de Pipas<\/figcaption><\/figure>\n

Em 18 de setembro de 1909, com o Demoiselle n\u00ba 22, aos 36 anos de idade, Santos Dumont realizou o seu \u00faltimo v\u00f4o como piloto, segundo v\u00e1rios de seus bi\u00f3grafos. Em Saint Cyr, Paris, sobrevoou o p\u00fablico com os dois bra\u00e7os abertos, fora dos comandos e um len\u00e7o em cada m\u00e3o. Ele soltou-os em v\u00f4o, aplaudido.<\/p>\n

As outras inven\u00e7\u00f5es de Santos Dumont<\/span><\/span><\/p>\n

\u2022\tBal\u00e3o a g\u00e1s de pequeno porte <\/span>que revolucionou a constru\u00e7\u00e3o de aer\u00f3statos. Foi batizado de Brasil, em homenagem \u00e0 terra natal de Dumont.<\/p>\n

\u2022\tDirig\u00edvel:<\/span> ao colocar um motor movido a petr\u00f3leo num bal\u00e3o a g\u00e1s, Dumont inventou o primeiro dirig\u00edvel.<\/p>\n

\u2022\tO precursor do ultraleve:<\/span> o Demoiselle 20, um avi\u00e3o menor, mais r\u00e1pido e com maior possibilidade controle que o 14 Bis, foi o \u00faltimo invento aeron\u00e1utico de Dumont. E o primeiro ultraleve da hist\u00f3ria. Tinha 115 kg, envergadura de 5,50m e comprimento de 5,55m.<\/p>\n

\u2022\tO rel\u00f3gio de pulso<\/span>: Dumont pediu ao amigo Cartier que transformasse o rel\u00f3gio de bolso em rel\u00f3gio de pulso, colocando al\u00e7as no lugar da corrente, de modo que ele pudesse controlar facilmente o tempo que passava no ar.<\/p>\n

\u2022\tHangar com portas de correr:<\/span> em 1900. O primeiro hangar do mundo tinha 11 metros de altura, 7 metros de largura e 30 metros de extens\u00e3o.<\/p>\n

E sobre os irm\u00e3os Wright… Nada!<\/p>\n

Em 1914 come\u00e7a a Primeira Grande Guerra novas armas surgem: submarinos, gases t\u00f3xicos, carros blindados, balas explosivas e avi\u00f5es. Quando a guerra acaba, h\u00e1 dez milh\u00f5es de soldados mortos, cidades destru\u00eddas, milh\u00f5es de civis mortos ou sem lar.<\/p>\n

Santos Dumont assiste horrorizado \u00e0 transforma\u00e7\u00e3o do seu invento em mais um recurso da morte. Apela aos pa\u00edses em guerra para que seja proibido o armamento a\u00e9reo. Ningu\u00e9m o ouve e ele cai em depress\u00e3o profunda. N\u00e3o inventara o avi\u00e3o para isso!<\/p>\n

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A Casa de Santos Dumont<\/figcaption><\/figure>\n

Bastante deprimido decide comprar um terreno em Petr\u00f3polis, perto do Rio e ali constr\u00f3i uma casa com inven\u00e7\u00f5es que anteciparam alguns dos eletrodom\u00e9sticos. Batizada carinhosamente de Encantada \u00e9 l\u00e1 que escreve o livro: O Que Eu Vi, o Que N\u00f3s Veremos. Nessa \u00e9poca procura dar uma ajuda ao governo brasileiro, oferecendo conselhos sobre a constru\u00e7\u00e3o de aeroportos, a forma\u00e7\u00e3o de pilotos e a constru\u00e7\u00e3o de avi\u00f5es.<\/p>\n

Em 1922 volta a Paris. \u00c9 convidado para presidir ao banquete de homenagem a Charles Lindbergh que atravessou o Atl\u00e2ntico Norte, mas a doen\u00e7a n\u00e3o permite que compare\u00e7a. Em 1928 volta ao Brasil e continuam as homenagens: a Legi\u00e3o de Honra Francesa, um lugar na Academia Brasileira de Letras (que nunca ocupou efetivamente).<\/p>\n

Santos-Dumont ignora honrarias e nem sequer registra as patentes das suas m\u00faltiplas inven\u00e7\u00f5es. A depress\u00e3o ataca-o cada vez mais profundamente. Sente-se culpado por todos os acidentes a\u00e9reos, pelo aproveitamento militar do seu esfor\u00e7o cient\u00edfico, por tudo o que de mal a avia\u00e7\u00e3o passaria a significar.<\/p>\n

Com menos de sessenta anos \u00e9 um velho doente e taciturno.<\/p>\n

Naquela tarde de julho decide n\u00e3o esperar mais e depois de ajudar a levantar a \u00faltima pipa decide retirar-se do mundo para sempre.<\/p>\n

Alguns anos depois a Uni\u00e3o Astron\u00f4mica Internacional decidiu batizar a cratera onde Neil Armstrong desceu no ch\u00e3o da Lua com o nome do inventor brasileiro.<\/span><\/span><\/span><\/p>\n

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Na Lua<\/figcaption><\/figure>\n

A cratera lunar se chama \u2013 Santos Dumont! Ele estava certo: o homem podia voar!<\/span><\/span><\/p>\n

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Para saber mais sobre a avia\u00e7\u00e3o na Primeira Guerra assista FLYBOYS<\/a><\/p>\n<\/div>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Thomas Edison referia-se a Santos Dumont como o \u201cBandeirante dos Ares\u201d, nos bastidores comentava que n\u00e3o dava pra acreditar na hist\u00f3ria contada pelos irm\u00e3os Wright, pois pra Edison, at\u00e9 uma pedra jogada de uma catapulta voa e voar n\u00e3o era isso pra ele.<\/p>\n","protected":false},"author":22,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"site-sidebar-layout":"default","site-content-layout":"default","ast-global-header-display":"","ast-main-header-display":"","ast-hfb-above-header-display":"","ast-hfb-below-header-display":"","ast-hfb-mobile-header-display":"","site-post-title":"","ast-breadcrumbs-content":"","ast-featured-img":"","footer-sml-layout":"","theme-transparent-header-meta":"","adv-header-id-meta":"","stick-header-meta":"","header-above-stick-meta":"","header-main-stick-meta":"","header-below-stick-meta":"","footnotes":""},"categories":[23],"tags":[1197,1196,1482],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/www.luissucupira.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/212470"}],"collection":[{"href":"https:\/\/www.luissucupira.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/www.luissucupira.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.luissucupira.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/users\/22"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.luissucupira.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=212470"}],"version-history":[{"count":3,"href":"https:\/\/www.luissucupira.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/212470\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":212472,"href":"https:\/\/www.luissucupira.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/212470\/revisions\/212472"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/www.luissucupira.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=212470"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.luissucupira.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=212470"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.luissucupira.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=212470"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}