Recentemente o Motonline citou em uma mat\u00e9ria o conhecido \u201cTio Bel<\/a><\/strong>\u201c, motociclista de Campina Grande (PB), que aos 95 anos ainda pilota uma possante Suzuki Hayabusa. Pois essa men\u00e7\u00e3o fez-me relembrar de uma hist\u00f3ria do meu passado, a qual compartilho com voc\u00eas.<\/p>\n <\/a><\/p>\n Tio Bel, ainda motociclista aos 95 anos<\/strong><\/p>\n Nossa turma de motoqueiros (sim, \u00e9ramos todos motoqueiros, ainda n\u00e3o existia essa distin\u00e7\u00e3o preconceituosa entre motoqueiro e motociclista) gostava muito de andar de moto num bairro aqui de Curitiba chamado Guabirotuba, que nos agradava por ter um relevo bem irregular, cheio de morros e consequentemente, subidas bem \u00edngremes. Como o relevo obrigava as ruas a serpentear, num determinado lugar a prefeitura construiu uma grande escadaria de aproximadamente 100 metros, bem \u00edngreme, que ligava a parte alta do bairro com a parte baixa, chegando a ter \u00e2ngulos pr\u00f3ximos a 35\u00ba.<\/p>\n Essa escadaria tinha nas suas bordas duas faixas de paralelep\u00edpedos, de 1 metro, planas e no centro os degraus. Faz\u00edamos a festa subindo-a e descendo de moto, \u00a0in\u00fameras vezes e at\u00e9 arriscando a descer pelos degraus. Viv\u00edamos l\u00e1 nos divertindo.<\/p>\n Num desses passeios, resolvi ir do ponto alto da escada at\u00e9 a parte baixa, pela rua, que fazia um \u201cU\u201d bem longo. Iniciei meu trajeto e j\u00e1 na primeira perna do \u201cU\u201d vinha, em sentido contr\u00e1rio, uma bras\u00edlia azul conduzida por um senhor septuagen\u00e1rio. Quando est\u00e1vamos a poucos metros um do outro ele bruscamente cortou a minha frente, sem dar sinal, para entrar na sua garagem. Freei o que deu, mas como era descida acentuada, piso de paralelep\u00edpedo e pra piorar ainda mais havia areia que se desprende da jun\u00e7\u00f5es das pedras, n\u00e3o deu outra. Entrei com tudo na porta do passageiro, me projetando sobre o carro.<\/p>\n <\/a><\/p>\n Piloto americano an\u00f4nimo de 88 anos<\/strong><\/p>\n Apesar de estar com o capacete fechado ainda bati com o queixo na canaleta do teto da Bras\u00edlia, sofrendo um grande e profundo corte que precisou de alguns pontos e deixou-me uma bela cicatriz que me acompanha at\u00e9 hoje como recorda\u00e7\u00e3o. Com a moto os estragos foram relevantes, entortando a roda e bengalas, al\u00e9m de inutilizar o p\u00e1ra-lama e quebrar o farol e pisca de um lado.\u00a0Paramos, meu queixo j\u00e1 sangrava c\u00e2ntaros e o senhor veio me esculachar.<\/p>\n Incr\u00edvel que mesmo tendo feito uma manobra totalmente irregular, ele ainda achava que estava certo. Como est\u00e1vamos na frente da casa dele, apareceu filho, cunhado, tia, sobrinha, papagaio e at\u00e9 o cachorro de estima\u00e7\u00e3o da fam\u00edlia.\u00a0Fiquei mais de uma hora, segurando uma flanela amarela no queixo pra estancar o sangue, tentando convencer aquele senhor de que ele estava errado, sendo at\u00e9 ajudado por um dos seus filhos, mas ningu\u00e9m conseguiu convenc\u00ea-lo de que estava errado e a fazer algum tipo de acordo, e o jeito foi chamar o plant\u00e3o de acidentes do Detran para registrar a ocorr\u00eancia e dessa forma me garantir pra enfrentar as vias judiciais. Depois de toda essa burocracia \u00e9 que fui at\u00e9 o pronto-socorro pra costurar meu queixo. Imagine o supl\u00edcio pra quem tinha pavor de agulha de inje\u00e7\u00e3o.<\/p>\n