John Ford.<\/em><\/strong><\/p>\n Roma, It\u00e1lia \u2013 Sala de audi\u00eancias de Sua Santidade, o Papa Pio IX, S\u00e9culo XIX. Um homem aguarda o sinal para ter com o Papa. Seus pensamentos o atormentam na expectativa do que vai pedir ao Sumo Pont\u00edfice. O jovem entra na sala, ajoelha-se, beija o anel e de joelhos conta ao Papa a raz\u00e3o da sua vinda de t\u00e3o longe.<\/em><\/p>\n Pede ele que o Papa autorize a casar-se com sua irm\u00e3 em raz\u00e3o de um amor incontrol\u00e1vel que ambos sentem um pelo outro. O Papa nega o pedido informando que tal uni\u00e3o n\u00e3o seria aben\u00e7oada pela Igreja. O jovem insiste com a argumenta\u00e7\u00e3o de que \u00e9 o \u2018grande amor da sua vida\u2019, mas o conselho dado por Sua Santidade acaba com todas as esperan\u00e7as.<\/em><\/p>\n Sua Santidade adverte-o novamente e diz que n\u00e3o existir\u00e1 maior prova de amor entre ambos sen\u00e3o \u201camarem-se em sil\u00eancio e platonicamente, longe do estigma do pecado da carne\u201d. O sil\u00eancio \u00e9 interrompido com a b\u00ean\u00e7\u00e3o papal e um \u201cv\u00e1 em paz, meu filho\u201d.<\/em><\/p>\n <\/p>\n <\/p>\n O jovem sai arrasado e est\u00e1 determinado a passar sua vida na solid\u00e3o, sem casar-se, no que \u00e9 acompanhado pela irm\u00e3. O desafortunado casal residia \u00e0 \u00e9poca na cidade de Ic\u00f3, Cear\u00e1 (340 km de Fortaleza). Ele \u00e9 o Bar\u00e3o do Crato e ela Maria do Ros\u00e1rio, jovem de beleza \u00edmpar, sua irm\u00e3.<\/em><\/p>\n Morreram solteiros. O Bar\u00e3o foi enterrado em Fortaleza no Cemit\u00e9rio S\u00e3o Jo\u00e3o Batista onde Dona Maria do Ros\u00e1rio, j\u00e1 idosa, morando na capital, ia toda semana fazer tric\u00f4 ao lado do seu t\u00famulo at\u00e9 que chegasse o dia de reencontrar Bernardo Duarte Brand\u00e3o, Bar\u00e3o do Crato, seu irm\u00e3o e amor imposs\u00edvel.<\/em><\/p>\n A maldi\u00e7\u00e3o do Bar\u00e3o do Crato<\/strong><\/p>\n Seria um belo mote para um romance, bem ao estilo shakespeariano a l\u00e1 Romeu e Julieta, de arrancar l\u00e1grimas de muitas pessoas, se a hist\u00f3ria acima n\u00e3o tivesse realmente acontecido.<\/p>\n Ic\u00f3, no Estado do Cear\u00e1 guarda ainda muitas lendas, segredos e mist\u00e9rios que deixariam qualquer ca\u00e7ador de hist\u00f3rias muito feliz.<\/p>\n O Bar\u00e3o do Crato e o seu amaldi\u00e7oado amor por Maria do Ros\u00e1rio fizeram dele um nobre pedante e cruel. Nos fundos do casar\u00e3o foram encontrados dentes que foram arrancados nas longas sess\u00f5es de tortura a que seus escravos eram submetidos horas a fio, dias e dias e peda\u00e7os de ossos de corpos humanos que presume-se tenham sido de escravos do Bar\u00e3o.<\/p>\n Dona Gl\u00f3ria Dias a abolicionista que enfrentou o Bar\u00e3o.<\/strong><\/p>\n Temido, o Bar\u00e3o n\u00e3o frequentava a sociedade e sempre estava envolto em disputas pol\u00edticas como que buscando descarregar sua infelicidade. Mas uma mulher, Dona Gl\u00f3ria Dias, descendente do Visconde do Ic\u00f3 resolveu enfrent\u00e1-lo. Insatisfeito com duas tamarineiras que serviam de abrigo e sombra para viajantes, incomodado com o barulho e o mau cheiro dos animais o Bar\u00e3o ordenou que fossem arrancadas. Dona Gl\u00f3ria adquiriu uma carro\u00e7a de p\u00f3lvora e informou ao Bar\u00e3o que caso fizesse isso ela faria seu sobrado voar pelos ares. Sabedor que promessa de Gl\u00f3rias Dias era coisa certa de ser cumprida, o Bar\u00e3o recuou.<\/p>\n A carro\u00e7a de p\u00f3lvora foi doada para os festejos de Senhor do Bonfim, para serem transformados em fogos de artif\u00edcio. Desta briga nasceu a tradi\u00e7\u00e3o de comemorar todos os anos com muitos fogos a data (6 de janeiro) em homenagem ao santo.<\/p>\n Mas Nosso Senhor do Bonfim carrega outra lenda n\u00e3o menos explosiva. Contam que foi constru\u00edda no meio do largo de 900 metros de comprimento por 100 de largura (Largo Th\u00e9berge), que fica no centro de Ic\u00f3, uma nova e maior igreja em homenagem ao Nosso Senhor do Bonfim. Por\u00e9m a imagem de Nosso Senhor continua na igreja antiga (1749) que fica ao lado do casar\u00e3o do Bar\u00e3o do Crato (que tem mais de 200 anos de constru\u00eddo), jamais saiu de l\u00e1. A lenda diz que abaixo dela est\u00e1 enterrada uma gigantesca baleia e se a imagem fosse movida tudo acabaria inundado e todos se afogariam. Mesmo hoje, com toda a tecnologia e informa\u00e7\u00e3o dispon\u00edveis, nem igreja, nem povo aceitam por raz\u00e3o nenhuma mover a imagem. Assim a igreja nova de Senhor do Bonfim, n\u00e3o tem a imagem original que continua no mesmo lugar onde sempre esteve.<\/p>\n Ic\u00f3 sempre foi uma cidade rica e culturalmente em ebuli\u00e7\u00e3o. \u00c9 l\u00e1, no meio do nada que foi constru\u00eddo o segundo teatro mais antigo do Brasil \u2013 o Teatro da Ribeira dos Ic\u00f3s, constru\u00eddo pelo m\u00e9dico franc\u00eas Dr. Th\u00e9berge (1860) nunca foi inaugurado. No dia destinado a sua inaugura\u00e7\u00e3o uma disputa para saber quem seria o casal mais elegante a estar presente acabou esvaziando a festa e por falta de pessoas o teatro n\u00e3o foi inaugurado. Al\u00e9m disso, carrega o teatro uma lenda que diz estar por baixo do palco uma passagem secreta que levaria a um t\u00fanel com destino a casa do Bar\u00e3o do Crato. H\u00e1 sim uma marca de uma passagem fechada por tijolos, mas o IPHAN \u2013 Instituto do Patrim\u00f4nio Hist\u00f3rico e Art\u00edstico Nacional, nunca autorizou escava\u00e7\u00f5es e, portanto, desde ent\u00e3o, surgiu mais uma lenda.<\/p>\n A cidade de Ic\u00f3, at\u00e9 1914, possu\u00eda uma popula\u00e7\u00e3o maior que a de Fortaleza, capital do Cear\u00e1. Com o tempo a decad\u00eancia chegou \u00e0 cidade fruto de uma estrada de ferro que foi desviada para a cidade de Iguatu isolando a cidade de 328 anos de hist\u00f3ria e 188 anos de emancipa\u00e7\u00e3o pol\u00edtica.<\/p>\n Liberta\u00e7\u00e3o dos Escravos<\/strong><\/p>\n <\/p>\n A Rua do Meio vai desembocar nos fundos da antiga pris\u00e3o constru\u00edda no final do S\u00e9culo XVIII. Suas paredes de 1,5m de largura, grades que pesam mais de cem quilos e uma chave \u00fanica, enorme e com meio quilo de peso. Ali foram presos os revoltosos da Confedera\u00e7\u00e3o do Equador e no p\u00e1tio interno, onde fica a capela de S\u00e3o Domingos \u2013 protetor dos presos \u2013 v\u00e1rios icoenses foram fuzilados a mando de Dom Pedro II que criou em Ic\u00f3 um Governo Imperial para combater a revolu\u00e7\u00e3o. Tamb\u00e9m est\u00e1 preso, a pedido da popula\u00e7\u00e3o, o sino descasamenteiro. Reza a lenda que quem tocava o sino, se fosse casado se separaria e se fosse solteiro n\u00e3o se casaria nunca.<\/p>\n Casar\u00e3o da Fam\u00edlia Teixeira – Um S\u00e9culo de hist\u00f3ria recuperada e preservada.<\/strong><\/p>\n <\/p>\n <\/p>\n <\/p>\n Pouco mais adiante chegamos ao casar\u00e3o com eira, beira e sobeira restaurado pela fam\u00edlia Teixeira, oriunda de V\u00e1rzea Alegre, munic\u00edpio pr\u00f3ximo a Ic\u00f3. Toda casa \u00e0 \u00e9poca que tinha eira, beira e sobeira era casa de gente abastada, da\u00ed dizerem que pobre era uma pessoa que n\u00e3o tinha nem eira, nem beira \u2013 quanto menos sobeira. Resultado de um projeto arquitet\u00f4nico de restaura\u00e7\u00e3o minuciosa, o empres\u00e1rio Luiz Gonzaga Teixeira atendendo ao desejo de sua esposa, recuperou a hist\u00f3ria do velho casar\u00e3o.<\/p>\n Foram muitas descobertas. Moedas, m\u00f3veis, lou\u00e7as enterradas no quintal, alicerces de pedra e barro; paredes feitas no que chamavam \u00e0 \u00e9poca de concreto cearense formado por uma moldura em madeira – fechadas entre os v\u00e3os com tijolos e cobertas por argamassa. Coisa que durava muito. O velho casar\u00e3o, todo restaurado, data de meados do S\u00e9culo XIX.<\/p>\n Ic\u00f3 tem muita hist\u00f3ria para ser contada e que n\u00e3o caberia em uma mat\u00e9ria apenas. Vale a pena conhecer v\u00e1rias outras lendas, suas igrejas, sua cultura. Hoje a atual administra\u00e7\u00e3o j\u00e1 prepara a cidade para ter guias-mirins que ir\u00e3o apresentar estas e outras hist\u00f3rias e est\u00f3rias aos visitantes. H\u00e1 centenas de casar\u00f5es preservados e outro tanto em fase de restaura\u00e7\u00e3o. Uma das medidas iniciais foi trazer o escrit\u00f3rio do IPHAN de volta \u00e0 cidade. Com isso, v\u00e1rios projetos que estiveram parados por d\u00e9cadas dever\u00e3o sair do papel e Ic\u00f3 ter\u00e1 de volta todo o seu esplendor. Desta vez por proporcionar ao visitante aventurista uma viagem no tempo atrav\u00e9s de lendas, muitos segredos ainda guardados e hist\u00f3rias de deixar cabelos em p\u00e9.<\/p>\n Descubra voc\u00ea mesmo os mist\u00e9rios de uma cidade que tem ainda muita hist\u00f3ria para contar. A gente se v\u00ea na estrada.<\/p>\n <\/p>\n Saiba mais: <\/strong><\/p>\n <\/p>\n <\/p>\n Icozinho \u2013 Uma capela de ex-votos no meio do sert\u00e3o.<\/a><\/p>\n APOIO CULTURAL<\/strong> \u2013 FAB Energ\u00e9tico da Foverer (Representante Forever Iguatu: maria_suelisil@hotmail.com), Make Safe \u2013 alarmes presenciais, Icamotos, Motonline, Revista Motoboy e Posto Icavel.<\/em><\/p>\n Esta \u00e9 a 5a. da s\u00e9rie de 24 mat\u00e9rias redescobrindo o Centro-Sul do Cear\u00e1. Agradecimentos :<\/strong><\/p>\n Wgerles Maia \u2013 Procurador do Munic\u00edpio e membro do MC Guerreiros do Sol.<\/p>\n M\u00e1rcio Greyke \u2013 Secret\u00e1rio de Cultura.<\/p>\n Altino Afonso \u2013 Historiador.<\/p>\n <\/p>\n <\/p>\n <\/p>\n![\"Igreja](\"http:\/\/www.motonline.com.br\/wp-content\/uploads\/2013\/04\/Igreja-do-Nosso-Senhor-do-Bonfim.jpg\")
<\/a><\/a><\/a><\/a><\/a><\/a><\/a>Ic\u00f3 det\u00e9m uma marca n\u00e3o registrada, segundo o historiador Altino Afonso, de ter sido a primeira cidade a libertar oficialmente os escravos tr\u00eas dias antes do dia 25 de mar\u00e7o de 1886, data que no Cear\u00e1, a partir da cidade de Reden\u00e7\u00e3o, acabou definitivamente com a escravatura no Estado. Os escravos de Ic\u00f3 tiveram ampla prote\u00e7\u00e3o e era motivo de luta abolicionista por parte de Dona Gl\u00f3ria Dias \u2013 a mulher que desafiara o Bar\u00e3o do Crato. A Igreja do Ros\u00e1rio, constru\u00edda pelos escravos e frequentada apenas por eles, est\u00e1 impecavelmente conservada. Para cumprirem com suas obriga\u00e7\u00f5es religiosas os escravos precisavam andar por uma rua estreita e comprida chamada de Rua do Meio. S\u00f3 poderiam caminhar por aquela rua, se fossem pegos vagando por outro lugar sem o seu senhor por perto ou a mando deste seria surra certa.<\/p>\n<\/a><\/a><\/a><\/a><\/p>\n
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