![\"Nova](\"http:\/\/www.luissucupira.com.br\/wp-content\/uploads\/2013\/05\/Imagem1.jpg\")
<\/a>Tapera, Ce. Cinco gera\u00e7\u00f5es antes. Caminhando a passos lentos depois de refrescar-se nas \u00e1guas frias de um riacho, chega na cidade um frade capuchino . De h\u00e1bito marrom-escuro, san\u00e1lias em couro surrado, entra lentamente na cidade. Busca uma casa para pouso.\u00a0 Logo adiante v\u00ea uma casa grande e imagina ser a frequentada por pessoas abastadas que n\u00e3o negariam um pouso ao frade. Bate na porta… Algu\u00e9m atende e ao v\u00ea-lo maltrapilho puxando um jumento, a pessoa lhe nega o pouso.<\/em><\/p>\n O frade retira-se. Est\u00e1 irado, pois seria aquela a \u00fanica vez nos quase mil quil\u00f4metros \u00e1 p\u00e9 que j\u00e1 havia andando onde seu pedido de pouso fora negado. Na sua mente a revolta pelo desd\u00e9m e falta de miseric\u00f3rdia com um homem de Deus, um servo de Senhor. Imaginava ele que se um servo do Senhor havia sido tratado daquela forma, imagina que fariam o mesmo com o pr\u00f3prio Cristo.<\/em><\/p>\n Dormira embaixo de um tamburil. Mesmo assim, ningu\u00e9m da cidade o acolheu e alimentou. Haveria de caber uma puni\u00e7\u00e3o. Pela manh\u00e3 os moradores pediram que rezasse uma missa. N\u00e3o lhes negou o alimento da f\u00e9. Pediram ainda que rebatizassem a cidade com novo nome, pois tapera era algo de pouca impon\u00eancia.<\/em><\/p>\n O pedido foi atendido. A missa estava rezada e os fi\u00e9is aben\u00e7oados, mas na hora de fechar a b\u00ean\u00e7\u00e3o, no momento de rebatizar a cidade sentiu um forte impulso de punir a todos pelo descaso com um servo de Deus e retirou suas sand\u00e1lias de couro surradas, bateu uma na outra e profetizou que “Tapera ser\u00e1 Nova Olinda para que se lembrassem da sua origem” \u2013 Olinda, Pernambuco \u2013 e disse que continuaria “Tapera por cinco gera\u00e7\u00f5es”.<\/em><\/p>\n A maldi\u00e7\u00e3o pegou e somente ap\u00f3s cinco gera\u00e7\u00f5es, Tapera deu lugar a NOVA OLINDA. E assim aconteceu. Cinco gera\u00e7\u00f5es mais tarde, em 14 de Abril de 1957, Nova Olinda foi emancipada como munic\u00edpio cearense, deixando definitivamente de ser uma tapera. Nascia a lenda da maldi\u00e7\u00e3o do frade capuchino.<\/em><\/p>\n Toda cidade tem suas atra\u00e7\u00f5es e lendas. Em Nova Olinda, distante 170 km de Iguatu, no Cear\u00e1; todas as atra\u00e7\u00f5es convergem para um processo cont\u00ednuo de renova\u00e7\u00e3o onde se prova que uma cidade que cuida da sua hist\u00f3ria pode estar garantindo seu futuro.<\/p>\n A nossa segunda incurs\u00e3o\u00a0pela regi\u00e3o da Chapada do Araripe foi \u00e0 busca da hist\u00f3ria de \u2018Espedito Seleiro\u2019 e de conhecer a Funda\u00e7\u00e3o Casa Grande exemplo na educa\u00e7\u00e3o infantil mundialmente reconhecida.<\/p>\n Cento e setenta quil\u00f4metros depois, chegamos \u00e0 Nova Olinda. De cara j\u00e1 percebemos como a cidade d\u00e1 valor a sua cultura e tradi\u00e7\u00e3o. Basta olhar as placas de sinaliza\u00e7\u00e3o tur\u00edstica e ver o nome de \u2018Espedito Seleiro\u2019. N\u00e3o precisa nem perguntar, pois elas entregam voc\u00ea na porta dele.<\/p>\n Espedito (com \u2018s\u2019 mesmo) \u00e9 um homem simples e dotado de grande talento para a arte do couro. Na regi\u00e3o do povo Kariri, o ciclo do couro passou \u00e0s margens do caminho das \u00e1guas do rio da fam\u00edlia dos Kariu-Kariri, soerguendo na Aldeia de \u00c1gua Sa\u00edda do Mato que virou Tapera e depois Nova Olinda. Chegamos num domingo e Espedito est\u00e1 a trabalhar como faz todos os dias, h\u00e1 muitos anos. Aos 72 anos de idade Espedito ainda nos surpreende pela conversa f\u00e1cil e pela forma como explica a sua arte. O atelier fica do outro lado da rua. \u00c9 La que ele se esconde para criar pe\u00e7as \u00fanicas.<\/p>\n A arte de domar o couro ele herdou de seu pai aos oito anos de idade e pelo jeito, aprender cedo \u00e9 uma das tradi\u00e7\u00f5es da cidade. Ainda crian\u00e7a Espedito ficou sabendo que seu pai que j\u00e1 vestia em couro o m\u00fasico sanfoneiro e o vaqueiro, as senhoras elegantes e o senhor de fazenda e ainda o mais temido de todos os cangaceiros \u2013 ningu\u00e9m menos que Lampi\u00e3o que usava sand\u00e1lias feitas por seu pai. Lampi\u00e3o sempre exigia que elas fossem perfeitamente retangulares e sem salto ou qualquer sinal que marcasse o local do calcanhar. Essa era a sua estrat\u00e9gia para confundir a dire\u00e7\u00e3o das suas pegadas e ganhar tempo fugindo das volantes.<\/p>\n Espedito continuou a tradi\u00e7\u00e3o e pela sa\u00fade esbanjada ainda vai nos presentear com anos de arte de grande qualidade, exportada para os quatro cantos do mundo e com seu \u00f3timo humor.<\/p>\n A Casa Grande: de mal-assombrada a <\/b>Memorial do Homem Kariri<\/b><\/p>\n Com apenas 15 mil habitantes Nova Olinda \u00e9 famosa tamb\u00e9m por um projeto inovador a Funda\u00e7\u00e3o Casa Grande.<\/p>\n Na d\u00e9cada de 70, a Casa Grande foi abandonada e ficou em ru\u00ednas. Por conta da lenda da maldi\u00e7\u00e3o do frei lendas de botijas enterradas, da alma do frade que vagava nas horas mortas da noite, arrastando suas sand\u00e1lias com um candeeiro na m\u00e3o se espalharam pela cidade e a transformaram em uma casa mal assombrada.<\/p>\n Em 1983 Alemberg Quindins, neto de Neco Trajano e sua esposa Rosiane Limaverde, iniciaram uma pesquisa de campo coletando lendas regionais que resgatassem a pr\u00e9-hist\u00f3ria do homem kariri. E assim descobriram todo um acervo arqueol\u00f3gico e hist\u00f3rico de valor inestim\u00e1vel exposto no Memorial.<\/p>\n Os \u00edndios kariri sempre foram conhecidos por ser uma civiliza\u00e7\u00e3o avan\u00e7ada. Confeccionavam suas ferramentas, dominavam o fogo, possu\u00edam uma vasta cultura e tinham um processo estruturado de registro e transfer\u00eancia de conhecimento utilizando pedras, barro e cer\u00e2mica.<\/p>\n Em 1992 a velha Casa Grande da Fazenda Tapera, aquela que se negou a dar pouso ao frade, que era mal-assombrada, foi totalmente restaurada e tombada passando a funcionar como o Memorial do Homem Kariri. \u00c9 nela que funciona tamb\u00e9m a Funda\u00e7\u00e3o Casa Grande.<\/p>\n Hoje a Funda\u00e7\u00e3o Casa Grande \u00e9 uma refer\u00eancia internacional no trato da preserva\u00e7\u00e3o cultural, da educa\u00e7\u00e3o para as artes e na defesa dos direitos da crian\u00e7a e do adolescente. L\u00e1 existe um museu com v\u00e1rias pe\u00e7as importantes e que conta a hist\u00f3ria, lendas e a cultura dos \u00edndios kariri.<\/p>\n Foi l\u00e1 que encontramos Adenilson Cardoso, de 13 anos de idade, e Glauber Filho, de apenas 10 anos, conduzindo a programa\u00e7\u00e3o da Casa Grande FM. Todos os operadores de r\u00e1dio e os locutores s\u00e3o crian\u00e7as ou adolescentes e muitos sa\u00edram de l\u00e1 para trabalhar profissionalmente em outras r\u00e1dios. Um deles \u00e9 fot\u00f3grafo profissional no Rio de Janeiro.<\/p>\n H\u00e1 ainda um teatro e em volta dele podemos ver pain\u00e9is fotogr\u00e1ficos de celebridades que visitaram o projeto, apresentaram-se ou deram palestras para os jovens talentos no teatro batizado de Engenho de Artes C\u00eanicas, de arquitetura r\u00fastica, tecnologicamente muito bem equipada e que homenageia Violeta Arrais uma das mais importantes figuras na constru\u00e7\u00e3o dos conceitos que regem a Funda\u00e7\u00e3o Casa Grande.<\/p>\n<\/a><\/a><\/a><\/a>