CARLES GELI<\/span><\/div>\n<\/div>\n<\/div>\n

Barcelona\u00a0<\/span><\/span>7 FEV 2018 – 20:08 CET<\/abbr><\/time><\/div>\n<\/div>\n

As Torres G\u00eameas, edif\u00edcios id\u00eanticos que se refletem mutuamente, um sistema fechado em si mesmo, impondo o igual e excluindo o diferente e\u00a0que foram alvo de um ataque<\/a>\u00a0que abriu um buraco no sistema global do igual. Ou as pessoas praticando\u00a0binge watching<\/em>\u00a0(maratonas de s\u00e9ries), visualizando continuamente s\u00f3 aquilo de que gostam: mais uma vez, multiplicando o igual, nunca o diferente ou o outro… S\u00e3o duas das poderosas imagens utilizadas pelo fil\u00f3sofo sul coreano\u00a0Byung-Chul Han<\/a>\u00a0(Seul, 1959), um dos mais reconhecidos dissecadores dos males que acometem a sociedade hiperconsumista e neoliberal depois da queda do\u00a0 Muro de Berli<\/a>m<\/a>. Livros como\u00a0A Sociedade do Cansa\u00e7o<\/em>,\u00a0Psicopol\u00edtica<\/em>\u00a0e\u00a0A Expuls\u00e3o do Diferente<\/em>\u00a0re\u00fanem seu denso discurso intelectual, que ele desenvolve sempre em rede: conecta tudo, como faz com suas m\u00e3os muito abertas, de dedos longos que se juntam enquanto ajeita um curto rabo de cavalo.<\/p>\n

\u201cNo\u00a01984<\/em>\u00a0orwelliano<\/a>\u00a0a sociedade era consciente de que estava sendo dominada; hoje n\u00e3o temos nem essa consci\u00eancia de domina\u00e7\u00e3o\u201d, alertou em sua palestra no Centro de Cultura Contempor\u00e2nea de Barcelona (CCCB), na Espanha, onde o professor formado e radicado na Alemanha falou sobre a expuls\u00e3o da diferen\u00e7a. E exp\u00f4s sua particular vis\u00e3o de mundo, constru\u00edda a partir da tese de que os indiv\u00edduos hoje se autoexploram e t\u00eam pavor do outro, do diferente. Vivendo, assim, \u201cno deserto, ou no inferno, do igual\u201d.\u00a0Autenticidade<\/strong>. Para Han, as pessoas se vendem como aut\u00eanticas porque \u201ctodos querem ser diferentes uns dos outros\u201d, o que for\u00e7a a \u201cproduzir a si mesmo\u201d. E \u00e9 imposs\u00edvel ser verdadeiramente diferente hoje porque \u201cnessa vontade de ser diferente prossegue o igual\u201d. Resultado: o sistema s\u00f3 permite que existam \u201cdiferen\u00e7as comercializ\u00e1veis\u201d.<\/p>\n

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Autoexplora\u00e7\u00e3o<\/strong>. Na opini\u00e3o do fil\u00f3sofo, passou-se do \u201cdever fazer\u201d para o \u201cpoder fazer\u201d. \u201cVive-se com a ang\u00fastia de n\u00e3o estar fazendo tudo o que poderia ser feito\u201d, e se voc\u00ea n\u00e3o \u00e9 um vencedor, a culpa \u00e9 sua. \u201cHoje a pessoa explora a si mesma achando que est\u00e1 se realizando; \u00e9 a l\u00f3gica trai\u00e7oeira do neoliberalismo que culmina na\u00a0s\u00edndrome de\u00a0burnout<\/em>\u201d<\/a>. E a consequ\u00eancia: \u201cN\u00e3o h\u00e1 mais contra quem direcionar a revolu\u00e7\u00e3o<\/a>, a repress\u00e3o n\u00e3o vem mais dos outros\u201d. \u00c9 \u201ca aliena\u00e7\u00e3o de si mesmo\u201d, que no f\u00edsico se traduz em anorexias ou em compuls\u00e3o alimentar ou no consumo exagerado de produtos ou entretenimento.<\/p>\n<\/div>\n<\/div>\n<\/div>\n<\/section>\n
\u2018Big data\u2019<\/strong>.\u201dOs\u00a0macrodados<\/a>\u00a0tornam sup\u00e9rfluo o pensamento porque se tudo \u00e9 quantific\u00e1vel, tudo \u00e9 igual… Estamos em pleno data\u00edsmo: o homem n\u00e3o \u00e9 mais soberano de si mesmo, mas resultado de uma opera\u00e7\u00e3o algor\u00edtmica que o domina sem que ele perceba; vemos isso na China com a concess\u00e3o de vistos segundo os dados geridos pelo Estado ou na\u00a0 t\u00e9cnica do reconhecimento facial<\/a>\u201d. A revolta implicaria em deixar de compartilhar dados ou sair das redes sociais? \u201cN\u00e3o podemos nos recusar a fornec\u00ea-los: uma serra tamb\u00e9m pode cortar cabe\u00e7as… \u00c9 preciso ajustar o sistema: o\u00a0ebook<\/em>\u00a0foi feito para que eu o leia, n\u00e3o para que eu seja lido atrav\u00e9s de algoritmos… Ou ser\u00e1 que o algoritmo agora far\u00e1 o homem?\u00a0Nos Estados Unidos vimos a influ\u00eancia do Facebook nas elei\u00e7\u00f5es<\/a>… Precisamos de uma carta digital que recupere a dignidade humana e pensar em uma renda b\u00e1sica para as profiss\u00f5es que ser\u00e3o devoradas pelas novas tecnologias\u201d.<\/p>\n
Comunica\u00e7\u00e3o<\/strong>. \u201cSem a presen\u00e7a do outro, a comunica\u00e7\u00e3o degenera em um interc\u00e2mbio de informa\u00e7\u00e3o: as rela\u00e7\u00f5es s\u00e3o substitu\u00eddas pelas conex\u00f5es, e assim s\u00f3 se conecta com o igual; a comunica\u00e7\u00e3o digital \u00e9 somente visual, perdemos todos os sentidos; vivemos uma fase em que a comunica\u00e7\u00e3o est\u00e1 debilitada como nunca: a comunica\u00e7\u00e3o global e dos\u00a0likes<\/em>\u00a0s\u00f3 tolera os mais iguais; o igual n\u00e3o d\u00f3i!\u201d.<\/p>\n
Jardim<\/strong>. \u201cEu sou diferente; estou cercado de aparelhos anal\u00f3gicos: tive dois pianos de 400 quilos e por tr\u00eas anos cultivei um jardim secreto que me deu contato com a realidade: cores, aromas, sensa\u00e7\u00f5es… Permitiu-me perceber a alteridade da terra: a terra tinha peso, fazia tudo com as m\u00e3os; o digital n\u00e3o pesa, n\u00e3o tem cheiro, n\u00e3o op\u00f5e resist\u00eancia, voc\u00ea passa um dedo e pronto… \u00c9 a aboli\u00e7\u00e3o da realidade; meu pr\u00f3ximo livro ser\u00e1 esse:\u00a0Elogio da Terra. O Jardim Secreto<\/em>. A terra \u00e9 mais do que d\u00edgitos e n\u00fameros.<\/p>\n
Narcisismo<\/strong>. Han afirma que \u201cser observado hoje \u00e9 um aspecto central do ser no mundo<\/a>\u201d. O problema reside no fato de que \u201co narcisista \u00e9 cego na hora de ver o outro\u201d e, sem esse outro, \u201cn\u00e3o se pode produzir o sentimento de autoestima\u201d. O narcisismo teria chegado tamb\u00e9m \u00e0quela que deveria ser uma panaceia, a arte: \u201cDegenerou em narcisismo, est\u00e1 ao servi\u00e7o do consumo, pagam-se quantias injustificadas por ela, j\u00e1 \u00e9 v\u00edtima do sistema; se fosse alheia ao sistema, seria uma narrativa nova, mas n\u00e3o \u00e9\u201d.<\/p>\n
Os outros<\/strong>. Esta \u00e9 a chave para suas reflex\u00f5es mais recentes. \u201cQuanto mais iguais s\u00e3o as pessoas, mais aumenta a produ\u00e7\u00e3o; essa \u00e9 a l\u00f3gica atual; o capital precisa que todos sejamos iguais, at\u00e9 mesmo os turistas; o neoliberalismo n\u00e3o funcionaria se as pessoas fossem diferentes\u201d. Por isso prop\u00f5e \u201cretornar ao animal original, que n\u00e3o consome nem se comunica de forma desenfreada; n\u00e3o tenho solu\u00e7\u00f5es concretas, mas talvez o sistema acabe desmoronando por si mesmo… Em todo caso, vivemos uma \u00e9poca de conformismo radical: a universidade tem clientes e s\u00f3 cria trabalhadores, n\u00e3o forma espiritualmente; o mundo est\u00e1 no limite de sua capacidade; talvez assim chegue a um curto-circuito e recuperemos aquele animal original\u201d.<\/p>\n
Refugiados<\/strong>. Han \u00e9 muito claro: com o atual sistema neoliberal \u201cn\u00e3o se sente preocupa\u00e7\u00e3o, medo ou avers\u00e3o pelos\u00a0refugiados<\/a>, na verdade s\u00e3o vistos como um peso, com ressentimento ou inveja\u201d; a prova \u00e9 que logo o mundo ocidental vai veranear em seus pa\u00edses.<\/p>\n
Tempo<\/strong>. \u00c9 preciso\u00a0revolucionar o uso do tempo<\/a>, afirma o fil\u00f3sofo, professor em Berlim. \u201cA acelera\u00e7\u00e3o atual diminui a capacidade de permanecer: precisamos de um tempo pr\u00f3prio que o sistema produtivo n\u00e3o nos deixa ter; necessitamos de um tempo livre, que significa ficar parado, sem nada produtivo a fazer, mas que n\u00e3o deve ser confundido com um tempo de recupera\u00e7\u00e3o para continuar trabalhando; o tempo trabalhado \u00e9 tempo perdido, n\u00e3o \u00e9 um tempo para n\u00f3s\u201d.<\/p>\n
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O \u201cMONSTRO\u201d DA UNI\u00c3O EUROPEIA<\/span><\/h4>\n<\/header>\n
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\u201cEstamos na Rede, mas n\u00e3o escutamos o outro, s\u00f3 fazemos barulho\u201d, diz Byung-Chul Han, que viaja o necess\u00e1rio, mas n\u00e3o faz turismo \u201cpara n\u00e3o participar do fluxo de mercadorias e pessoas\u201d. Tamb\u00e9m defende uma pol\u00edtica nova. E a relaciona com a Catalunha, tema cuja tens\u00e3o atenua brincando:<\/p>\n
\u201cSe Puigdemont prometer voltar ao animal original, eu me torno separatista\u201d.<\/p>\n
J\u00e1 no aspecto pol\u00edtico, enquadra o assunto no contexto da Uni\u00e3o Europeia: \u201cA UE n\u00e3o foi uma uni\u00e3o de sentimentos, mas sim comercial; \u00e9 um monstro burocr\u00e1tico fora de toda l\u00f3gica democr\u00e1tica; funciona por decretos…; nesta globaliza\u00e7\u00e3o abstrata acontece um duelo entre o n\u00e3o lugar e a necessidade de ser de um lugar concreto; o especial \u00e9 inc\u00f4modo, gera desassossego e arrebenta o regional. Hegel dizia que a verdade \u00e9 a reconcilia\u00e7\u00e3o entre o geral e o particular e isso, hoje, \u00e9 mais dif\u00edcil…\u201d. Mas recorre \u00e0 sua revolu\u00e7\u00e3o do tempo: \u201cO casamento faz parte da recupera\u00e7\u00e3o do tempo livre: vamos ver se haver\u00e1 um casamento entre a Catalunha e Espanha, e uma reconcilia\u00e7\u00e3o\u201d.<\/p>\n<\/div>\n<\/div>\n<\/section>\n<\/div>\n<\/div>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
O fil\u00f3sofo sul-coreano, um destacado dissecador da sociedade do hiperconsumismo, fala sobre suas cr\u00edticas ao \u201cinferno do igual\u201d O fil\u00f3sofo Byung-Chul Han em Barcelona\u00a0MASSIMILIANO MINOCRI\u00a0EL PA\u00cdS CARLES GELI Barcelona\u00a07 FEV 2018 – 20:08 CET As Torres G\u00eameas, edif\u00edcios id\u00eanticos que se refletem mutuamente, um sistema fechado em si mesmo, impondo o igual e excluindo o …<\/p>\n
Byung-Chul Han: \u201cHoje o indiv\u00edduo se explora e acredita que isso \u00e9 realiza\u00e7\u00e3o\u201d<\/span> Leia mais »<\/a><\/p>\n","protected":false},"author":22,"featured_media":224873,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"site-sidebar-layout":"default","site-content-layout":"default","ast-global-header-display":"","ast-main-header-display":"","ast-hfb-above-header-display":"","ast-hfb-below-header-display":"","ast-hfb-mobile-header-display":"","site-post-title":"","ast-breadcrumbs-content":"","ast-featured-img":"","footer-sml-layout":"","theme-transparent-header-meta":"","adv-header-id-meta":"","stick-header-meta":"","header-above-stick-meta":"","header-main-stick-meta":"","header-below-stick-meta":"","footnotes":""},"categories":[313],"tags":[],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/www.luissucupira.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/224872"}],"collection":[{"href":"https:\/\/www.luissucupira.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/www.luissucupira.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.luissucupira.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/users\/22"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.luissucupira.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=224872"}],"version-history":[{"count":1,"href":"https:\/\/www.luissucupira.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/224872\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":224874,"href":"https:\/\/www.luissucupira.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/224872\/revisions\/224874"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.luissucupira.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media\/224873"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/www.luissucupira.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=224872"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.luissucupira.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=224872"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.luissucupira.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=224872"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}