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<\/a>J\u00e1 n\u00e3o faz muito tempo os jovens da internet assustavam seus pais e amigos ao baixarem fotos de mulheres peladas e v\u00eddeos pornogr\u00e1ficos. Era um esc\u00e2ndalo. Hoje a coisa mudou e a juventude precisa cada vez mais se auto-afirmar. “Parecer que \u00e9” passou a ser muito mais do que “ser realmente”. Para serem aceitos uma boa parte dos jovens busca caminhos que n\u00e3o condizem com a educa\u00e7\u00e3o que receberam.<\/p>\n
Uma das coisas que mais chama a aten\u00e7\u00e3o \u00e9 quando um jovem que reside em favela d\u00e1 certo. \u00c9 aceit\u00e1vel que ele que n\u00e3o teve chances, muitas vezes nem pai e nem m\u00e3e, estudou em escolas p\u00fablicas, \u0091ralou\u0092 muito em jornada tripla, livrou-se da tenta\u00e7\u00e3o do tr\u00e1fico, enfim, sobreviveu a tudo isso e venceu!!! O espanto \u00e9 tanto que at\u00e9 viram not\u00edcia no Jornal Nacional e podem ate aparecer no Fant\u00e1stico ou no programa da Record.<\/p>\n
Da mesma forma causa espanto o fato de que jovens da classe alta, cada vez mais, estejam se envolvendo com delitos. Recentemente um filme retrata isso-em “Meu nome n\u00e3o \u00e9 Johnny” Jo\u00e3o Guilherme Estrella \u00e9 um jovem de classe m\u00e9dia alta da cidade de Rio de Janeiro. Adorado por seus pais e amigos, viveu a vida intensamente, passou por todas as loucuras permitidas e n\u00e3o permitidas, e nos anos 80 se aventurou no mundo do tr\u00e1fico e tornou-se um rei. Investigado pela pol\u00edcia e preso, tem seu nome e seu rosto exposto em jornais e revistas. Ao inv\u00e9s de festas, ele passa freq\u00fcentar o banco dos r\u00e9us, onde conta a sua hist\u00f3ria e tramas da juventude. A Internet, pela tenta\u00e7\u00e3o do poss\u00edvel anonimato, tem v\u00e1rios casos. Pessoas foram atacadas no Orkut, namorados frustrados decidiram espalhar fotos e filmes \u00edntimos para vingarem-se dos ex-companheiros(as) e por ai vai; a grande maioria das vezes atrav\u00e9s do anonimato.Outros jovens brilhantes, bem educados, que vivem em uma fam\u00edlia est\u00e1vel, estruturada e feliz, inexplicavelmente decidem enveredar por caminhos desvirtuados e acabam nas manchetes de jornais exatamente por serem de classe m\u00e9dia ou alta.<\/p>\n
Alguns casos tiveram grande repercuss\u00e3o. Os jovens de classe m\u00e9dia alta foram o principal alvo da Pol\u00edcia Federal em maio deste ano por conta da Opera\u00e7\u00e3o Trilha. Para prender quadrilha especializada em clonagem de cart\u00f5es de cr\u00e9dito, de cheques e desvio de dinheiro de contas banc\u00e1rias pela internet foram mobilizados 691 policiais federais para cumprir 120 mandados de pris\u00e3o preventiva, 19 mandados de pris\u00e3o tempor\u00e1ria e 136 mandados de busca e apreens\u00e3o em 12 estados e no Distrito Federal. As investiga\u00e7\u00f5es, iniciadas h\u00e1 cerca de um ano, revelaram que integrantes da quadrilha utilizavam programas para capturar senhas banc\u00e1rias de correntistas de v\u00e1rios bancos. Os presos foram indiciados pelos crimes de forma\u00e7\u00e3o de quadrilha, furto qualificado mediante fraude, tentativa de furto e estelionato. O Rio de Janeiro foi o estado com maior n\u00famero de mandados de pris\u00e3o para duas quadrilhas diferentes que usavam a internet para se comunicar e tentar burlar eventuais escutas telef\u00f4nicas da Justi\u00e7a. Outra opera\u00e7\u00e3o, chamada de \u0091Nocaute\u0092, tamb\u00e9m tinha como objetivo prender suspeitos de tr\u00e1fico internacional e interestadual de drogas. Elas aconteceram em v\u00e1rios pontos do Rio, e nos estados de Santa Catarina, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bahia, Minas Gerais, Paran\u00e1 e Pernambuco, e tamb\u00e9m no Distrito Federal. Ao todo, 54 pessoas j\u00e1 foram presas nas duas a\u00e7\u00f5es.<\/p>\n
Os procuradores da Rep\u00fablica Jos\u00e9 Augusto Vagos e Orlando Cunha, respons\u00e1veis pelas den\u00fancias afirmam que “os acusados s\u00e3o todos jovens de classe m\u00e9dia alta, residentes em bairros nobres, principalmente no Rio de Janeiro, muitos praticantes de surfe e frequentadores de academias, que largaram os estudos e jamais tiveram ocupa\u00e7\u00e3o l\u00edcita formal ou informal, dedicando-se exclusiva e diuturnamente a cometer crimes na internet onde auferem rendimentos que possibilitam um padr\u00e3o de vida sedutor para a maioria dos jovens de sua idade”. Al\u00e9m dos mandados de pris\u00e3o e busca e apreens\u00e3o, a Justi\u00e7a tamb\u00e9m determinou o bloqueio de im\u00f3veis e carros de luxo, al\u00e9m de diversas contas banc\u00e1rias.<\/p>\n
Lya Luft, escrevendo sobre crime e castigo na revista Veja, destacou com propriedade: “Estamos levando na brincadeira a quest\u00e3o do erro e do castigo, ou do crime e da puni\u00e7\u00e3o. Sem limites em casa e sem puni\u00e7\u00e3o de crimes fora dela, nada vai melhorar. Precisamos de puni\u00e7\u00f5es justas, autoridade vigilante, uma reforma geral das leis para impedir perversidade ou leni\u00eancia, jovens criminosos julgados como criminosos, n\u00e3o como crian\u00e7as malcriadas. Pais com medo dos filhos,professores insultados pela meninada sem educa\u00e7\u00e3o. Seria de rir, se n\u00e3o fosse de chorar.”<\/p>\n
Jesseir Coelho de Alc\u00e2ntara, juiz de Direito e professor afirma que como magistrado que atua na presid\u00eancia do Tribunal do J\u00fari, constata a presen\u00e7a de muitos jovens ricos acusados e julgados pela pr\u00e1tica (at\u00e9) de homic\u00eddios. “Muitas dessas situa\u00e7\u00f5es acontecem porque os pais passam a \u0091m\u00e3o na cabe\u00e7a do filhinho\u0092 sem dar-lhe a devida corre\u00e7\u00e3o. O resultado \u00e9 que muitos deles se tornam marginais perigos\u00edssimos com superprote\u00e7\u00e3o dos pais.”<\/p>\n
Por isso, sempre vem o questionamento: por que esses rapazes agem assim? Certamente h\u00e1 muitas respostas, mas o Merit\u00edssimo Juiz Jesseir destaca alguns pontos de forma bastante dura: “falta de boa educa\u00e7\u00e3o e orienta\u00e7\u00e3o que os pais deveriam dar, falha no exemplo dos pais, falta de estudo e educa\u00e7\u00e3o, uso indevido da internet, uso de drogas, \u00edndole para a pr\u00e1tica delitiva, sem-vergonhice, falta de pudor, canalhice, dist\u00farbios fronteiri\u00e7os, m\u00e1s companhias e muitas outras coisas, com culpa dos pais, escolas, amizades, sociedade e dos pr\u00f3prios jovens mesmos.”Finaliza.<\/p>\n
No Cear\u00e1, em dezembro, tr\u00eas jovens acusados de integrar um grupo de \u0091hackers\u0092 interestaduais, respons\u00e1vel por golpes contra pelo menos seis estabelecimentos banc\u00e1rios e pessoas f\u00edsicas, cujos valores superam a cifra de R$ 1 milh\u00e3o, foram presos por policiais da Delegacia de Defrauda\u00e7\u00f5es e Falsifica\u00e7\u00f5es (DDF). A Pol\u00edcia afirma que os golpistas chegaram a obter um cart\u00e3o de cr\u00e9dito em nome da apresentadora de TV, Xuxa Meneghel. Em apenas um dos golpes, contra um empres\u00e1rio cearense, o bando conseguiu transferir R$ 90 mil. Segundo a Pol\u00edcia, nos computadores apreendidos com os acusados, foram encontradas senhas do Infoseg, sistema de informa\u00e7\u00f5es sigilosas e de uso exclusivo de servidores cadastrados do Poder Judici\u00e1rio, Minist\u00e9rio P\u00fablico e Pol\u00edcia. Na v\u00e9spera de natal, um \u0091cart\u00e3ozeiro\u0092 foi assassinado em um posto de combust\u00edvel na zona nobre da cidade de Fortaleza, na frente de todo mundo, tudo filmado pelo circuito interno do posto.<\/p>\n
Marcelo Baeta Neves Miranda, servidor p\u00fablico federal em Juiz de Fora (MG) realizou interessante trabalho sobre os delitos cometidos na web.Segundo ele tais delitos s\u00e3o tamb\u00e9m chamados de “special oportunity crimes”, ou seja , crimes afetos \u00e0 oportunidade. Em geral os delinquentes s\u00e3o tamb\u00e9m de oportunidade e os delitos praticados por agentes que, freq\u00fcentemente, tem a sua ocupa\u00e7\u00e3o profissional afeta \u00e0 \u00e1rea de inform\u00e1tica. Segundo Marcelo “o perfil dos que cometem crimes na web (baseado em pesquisa emp\u00edrica), indica pessoas jovens, inteligentes acima da m\u00e9dia, educados, com idade entre 15 e 32 anos, do sexo masculino, magros, caucasianos, audaciosos e aventureiros, movidos pelo desafio da supera\u00e7\u00e3o do conhecimento, al\u00e9m do sentimento de anonimato, que bloqueia seus par\u00e2metros de entendimento para avaliar sua conduta como ilegal, sempre alegando ignor\u00e2ncia do crime e que agiram, simplesmente, por “brincadeira”. Tem prefer\u00eancia por fic\u00e7\u00e3o cient\u00edfica, m\u00fasica, xadrez, jogos de guerra e n\u00e3o gostam de esportes de impacto. As condutas do delinq\u00fcente t\u00edpico de inform\u00e1tica geralmente passam por tr\u00eas est\u00e1gios: o desafio, o dinheiro extra e, por fim, os altos gastos e o com\u00e9rcio ilegal.”<\/p>\n
Este tipo de perfil dificulta bastante que o cyber-criminoso seja surpreendido em flagrante ou mesmo que se suspeite dele. Marcelo destaca que “um estudante universit\u00e1rio, por exemplo, que trabalhe num Departamento de Processamento de Dados de uma conceituada universidade ou ainda um jovem digitador em uma institui\u00e7\u00e3o financeira ou um banco, cometendo crimes contra seus empregadores \u00e9 algo dif\u00edcil de acreditar” principalmente se ele \u00e9 bem de vida. Nunca pode se prever que isso venha a ter uma dimens\u00e3o alarmante.<\/p>\n
Segundo Andr\u00e9 Luiz Alves de Melo, Mestre em Direito P\u00fablico e Promotor de Justi\u00e7a a classe abastada vai menos para a cadeia pelo fato de que em crimes de fraude na web \u00e9 mais dif\u00edcil de ser apurada e a nossa pol\u00edcia ainda n\u00e3o tem uma cultura de investiga\u00e7\u00e3o, bastando apenas ouvir testemunhas j\u00e1 indicadas pela v\u00edtima. Andr\u00e9 destaca que “um Engenheiro poderia ser Delegado de Pol\u00edcia, pois demanda racioc\u00ednio com vari\u00e1veis, e a parte jur\u00eddica seria feita por um assessor jur\u00eddico, afinal o mais importante seria a produ\u00e7\u00e3o de provas e n\u00e3o discuss\u00f5es te\u00f3ricas sobre Direito.”\tUm importante fator de combate a este tipo de delito \u00e9 a reprova\u00e7\u00e3o social, mas se o crime passa a ser aceito como se fosse um fato natural, a repress\u00e3o jur\u00eddica torna-se ineficaz, principalmente por que a maioria das penas \u00e9 de cunho alternativo.<\/p>\n
Uma vez escutei uma frase que muito me fez refletir bastante-“N\u00e3o \u00e9 o que voc\u00ea \u00e9 por dentro que te define. O que te define \u00e9 como voc\u00ea se mostra ao mundo.” Isso faz toda a diferen\u00e7a quando a gente trata de crimes executados na web por jovens da classe m\u00e9dia ou por pessoas com grande conhecimento em inform\u00e1tica. O acesso a tecnologia \u00e9 caro para a maioria dos lares brasileiros, bem como \u00e0s linguagens usadas em programa\u00e7\u00e3o, al\u00e9m de programas e ferramentas-hardware e software.<\/p>\n
Desde novembro de 2009 a Pol\u00edcia Federal (PF) recebe den\u00fancias de crimes na internet (http:\/\/www.pf.gov.br). Qualquer pessoa que tenha conhecimento de sites que divulguem pornografia infantil, crimes de \u00f3dio, de genoc\u00eddio, entre outros, pode informar aos \u00f3rg\u00e3os respons\u00e1veis pela investiga\u00e7\u00e3o. Segundo a PF, o recebimento de den\u00fancias pela web permitir\u00e1 acelerar os procedimentos de identifica\u00e7\u00e3o da autoria e preserva\u00e7\u00e3o dos ind\u00edcios dos crimes. Al\u00e9m disso, a medida poder\u00e1 reduzir o tempo entre a ocorr\u00eancia e a responsabiliza\u00e7\u00e3o criminal do suspeito.<\/p>\n
As a\u00e7\u00f5es e combate aos crimes t\u00eam surtido efeito. Comparando o primeiro semestre de 2008 ao primeiro semestre de 2009 os n\u00fameros apontam para redu\u00e7\u00f5es em v\u00e1rias \u00e1reas. Intoler\u00e2ncia religiosa (-35%), racismo(-19,8%), neonazismo(-19,1%), xenofobia(-59,3%), homofobia(-38,3%) e apologia e incita\u00e7\u00e3o a crimes na web (-8%) tiveram quedas expressivas. Por outro lado, mesmo com todos os esfor\u00e7os a pornografia infantil cresceu 14,6%. No geral houve uma redu\u00e7\u00e3o de 0,5% em rela\u00e7\u00e3o ao mesmo per\u00edodo de 2008.<\/p>\n